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Crítica

"Lion - A Longa Estrada Para Casa", de Garth Davis



Título Original: "Lion"
Realização: Garth Davis
Argumento: Luke Davies
Elenco: Dev Patel, Rooney Mara, David Wenham, Nicole Kidman
Género: Drama
Duração: 118 minutos
Distribuição: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 08/12/2016

"Quem não chorar em Lion não é humano." Era o que mais se ouvia depois de o filme ter tudo a sua antestreia mundial no prestigiado Festival de Toronto, onde foi recebido com uma assombrosa apoteose de aplausos que durou 15 minutos. E, não é caso para menos, afinal aquilo que o estreante Garth Davis foi criar um daqueles filmes que todos gostavam de saber fazer, mas que raramente vemos: um melodrama clássico com veia de tearjerker ("filme para chorar"), que comove genuinamente pela sua honestidade. A história real de Saroo Brierley, uma criança de 5 anos que se perdeu da família na década de 80 ao entrar inadvertidamente para um comboio que o transportou até Calcutá. Alguns meses depois foi adotado por uma família na Austrália e, só 25 anos mais tarde foi capaz de reencontrar o seu lar na Índia graças ao Google Earth. Por outras palavras, um daqueles episódios que mesmo sendo verídicos parecem ter algo de impossível (que, naturalmente acaba por só realçar a espetacularidade destas histórias), que o cineasta australiano conta com notável mestria, apoiando-se num excelente trabalho global dos atores (Dev Patel, Nicole Kidman e, a sempre luminosa Rooney Mara, em especial) e num argumento que apela à emoção sem nunca estupidificar ou manipular o espetador, nem cair na lamechice. Aqui a questão não é se faz chorar ou não (claro que faz) é como faz chorar e, nesse aspeto, há uma ideia de serenidade maravilhosa.

10/10
Texto de Miguel Anjos

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