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Crítica

"Hell or High Water: Custe o Que Custar!", de David Mackenzie


Título Original: "Hell or High Water"
Realização: David Mackenzie
Argumento: Taylor Sheridan
Elenco: Jeff Bridges, Chris Pine, Ben Foster
Género: Crime, Drama, Western
Duração: 102 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificações Etárias: M/16
Data de Estreia (Portugal): 08/12/2016

Grande acontecimento cinematográfico: David Mackenzie e Taylor Sheridan, um escocês e um americano, um cineasta e um argumentista, dois artistas em perfeita sintonia juntos numa prodigiosa obra-prima que nos leva até ao Texas vazio, desolado e esquecido. Uma paisagem poeirenta e desértica onde os bancos são os verdadeiros vilões e, os assaltantes os heróis que se vingam desta América capitalista em que as pessoas se converteram em meros números numa folha de Excel. Mackenzie, um europeu a trabalhar um género que é classicamente norte-americano, evoca memórias cinéfilas tão distintas como John Ford ou Joel e Ethan Coen, sem nunca se perder em tão ilustres referencias, ao invés ganhando o seu lugar entre elas, ao construir uma obra simultaneamente moderna e clássica, ampla e contida, filmando o horizonte da estrada, as regras da perseguição, as inquietações que corroem a alma dos cowboys, as pessoas desesperadas sem dinheiro nem perspetivas de futuro que andam ali naquele lugar desprovido de esperança, onde se levam armas para os bancos, em busca de uma forma de sustentar as suas famílias. É um daqueles grandes filmes que nos transporta de imediato e com eficácia para uma certa realidade e, para tal o trabalho dos atores é absolutamente crucial, em especial do trio de protagonistas, Jeff Bridges imperial como xerife à beira da reforma, Ben Foster um herdeiro genuíno da fúria de Sean Penn e, Chris Pine no melhor momento da sua carreira (ele que já havia deixado boas indicações este ano no muito pouco visto, mas fenomenal filme de Craig Zobel, "Os Últimos Na Terra") a trazer uma humanidade majestosa ao papel de um pai desesperado que só quer dar aos filhos a vida que nunca teve. Imperdível…

10/10
Texto de Miguel Anjos

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