Avançar para o conteúdo principal

Crítica

"Última Chamada Para Lado Nenhum", de Philippe de Chauveron



Título Original: "Débarquement immédiat!"
Realização: Philippe de Chauveron
Género: Comédia
Duração: 90 minutos
Distribuidor: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 15/12/2016


Philippe de Chauveron parece ser o mais recente membro daquele clube deveras restrito de cineastas gauleses, cujos filmes têm lançamentos comerciais mais ou menos alargados garantidos à partida. Estranho para um autor que trabalha quase exclusivamente no reino da comédia, mas lá aconteceu devido ao monstruoso sucesso da sua obra anterior, "Que Mal Fiz Eu A Deus?" (um inesperado fenómeno há dois Verões atrás), uma fita inteligente e divertida que conseguia construir uma intriga com piada a partir de uma temática séria, o racismo. Agora, regressou com o similar "Última Chamada Para Lado Nenhum", mistura de buddy movie com comédia delirante (a lá "A Ressaca"), que parece querer fazer rir ao mesmo tempo que aborda o preconceito (que já era o tema centra de "Que Mal Fiz Eu A Deus?") nas sociedades contemporâneas e, até a atual "crise dos refugiados", através da história de um polícia ambicioso que na sua última missão antes da promoção com a qual sempre sonhou, se vê perante um sem número de sarilhos. Nunca atinge níveis elevados de qualidade é certo (e, havia aqui potencial para uma obra mais séria e complexa acerca da temática em questão), mas os momentos humorísticos sucedem-se a uma velocidade alucinante e, funcionam quase sempre na perfeição (há três ou quatro sequências a tocar o brilhantismo) e, a dupla de protagonistas (Ary Abittan e Medi Sadoun, ambos já haviam marcado presença em "Que Mal Fiz Eu A Deus?") entrega-se de corpo e alma a cada gag. Uma boa opção para uma tarde em família neste Natal, portanto.

6/10
Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

CRÍTICA - "THE APPRENTICE - A HISTÓRIA DE TRUMP"

"The Apprentice", em Portugal, acompanhado pelo subtítulo "A História de Trump", tornou-se num dos filmes mais mediáticos do ano antes de ser revelado ao público, em maio, no Festival de Cannes, "poiso" habitual do seu autor, o iraniano-sueco-dinamarquês Ali Abbasi. De facto, os tabloides tiveram muito por onde pegar, houve um apoiante de Donald Trump que, inconscientemente, terá sido um dos financiadores de "The Apprentice" (só podemos especular que terá assumido que o filme se tratava de uma hagiografia, de pendor propagandístico), a campanha de boicote que Trump e a sua comitiva lançaram contra o filme, a dificuldade de encontrar um distribuidor no mercado norte-americano (nenhum estúdio quer ter um possível Presidente como inimigo), etc. A polémica vale o que vale (nada), ainda que, inevitavelmente, contribua para providenciar um ar de choque a "The Apprentice", afinal, como exclamam (corretamente) muitos dos materiais promocionais ...

"Flow - À Deriva" ("Straume"), de Gints Zilbalodis

Não devemos ter medo de exaltar aquilo que nos parece "personificar", por assim dizer, um ideal de perfeição. Consequentemente, proclamo-o, sem medos, sem pudores, "Flow - À Deriva", do letão Gints Zilbalodis é um dos melhores filmes do século XXI. Um acontecimento estarrecedor, daqueles que além de anunciar um novo autor, nos providencia a oportunidade rara, raríssima de experienciar "cinema puro". O conceito é simultaneamente simples e complexo. Essencialmente, entramos num mundo que pode ou não ser o nosso, onde encontramos apenas natureza, há resquícios do que pode, eventualmente, ter sido intervenção humana, mas, permanecem esquecidos, abandonados, nalguns casos, até consumidos pela vegetação. Um dia, um gato, solitário por natureza, é confrontado com um horripilante dilúvio e, para sobreviver, necessita de se unir a uma capivara, um lémure-de-cauda-anelada e um cão. Segue-se uma odisseia épica, sem diálogos, onde somos convidados (os dissidentes, cas...

"Oh, Canada", de Paul Schrader

Contemporâneo de Martin Scorsese, Steven Spielberg e Francis Ford Coppola, Paul Schrader nunca conquistou o estatuto de "popularidade" de nenhum desses gigantes... e, no entanto (ou, se calhar, por consequência de), é, inquestionavelmente, o mais destemido. Em 1997, "Confrontação", a sua 12ª longa-metragem, tornou-se num pequeno sucesso, até proporcionou um Óscar ao, entretanto, falecido James Coburn. Acontece que, o mediatismo não o deslumbrou, pelo contrário, Schrader tornou-se num cineasta marginal, aberto às mais radicais experiências (a título de exemplo, mencionemos "Vale do Pecado", com Lindsay Lohan e James Deen). Uma das personas mais fascinantes do panorama cultural norte-americano, parecia ter escolhido uma espécie de exílio, até que, "No Coração da Escuridão", de 2017, o reconciliou com o público. Aliás, o filme representou o início de uma espécie de trilogia, completada por "The Card Counter: O Jogador", em 2021, e "O ...