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Cinema

Crítica: "Jackie", de Pablo Larraín



Título Original: "Jackie"
Realização: Pablo Larraín
Argumento: Noah Oppenheim
Elenco: Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Greta Gerwig, Billy Crudup, John Hurt
Género: Biografia, Drama
Duração: 99 minutos
Distribuidor: Cinemundo
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 09/02/2017


Há cineastas e cineastas, como nos ensina este enigmático monumento de nome "Jackie" (estreia-se hoje), uma cinebiografia que em mãos menos experientes (e, neste subgénero já se sabe que predominam os tarefeiros), poderia redundar numa tentativa desinspirada de reconstituir os momentos que se seguiram ao assassinato de John F. Kennedy, a partir do olhar da sua mulher Jacqueline, mas que com um mestre como o chileno Pablo Larraín ao leme se transforma numa experiência cinematográfica como nunca antes tivemos que faz uso de uma montagem invulgarmente ágil (os acontecimentos têm lugar em torno de uma entrevista dada poucos dias depois da morte de JFK) para nos conduzir até ao cerne de uma mulher fragmentada, no processo regressando à temática que sempre marcou o cinema de Larraín: a história, a sua importância nas sociedades e a relação que mantemos com ela. Desta forma, o cineasta apresenta-nos uma belíssima obra, que tanto nos ensina que por vezes a sensualidade da mitologia se torna mais real do que a verdade dos factos, como funciona como uma elegia brutalmente visceral sobre o que foi perdido ou, na volta nunca existiu fora da mente das personagens atormentadas que habitam os seus mundos melancólicos e metodicamente construídos. E, Portman é sufocantemente brilhante, não estivéssemos a falar de uma mais extraordinárias atrizes contemporâneas.


9/10
Texto de Miguel Anjos

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