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Cinema

Crítica: "Alien: Covenant", de Ridley Scott


Título Original: "Alien: Covenant"
Realização: Ridley Scott
Género: Terror, Ficção-Cientifica
Duração: 122 minutos
Distribuidor: Big Picture Films
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 18/05/2017

Quando fez Prometheus, Ridley Scott assumiu um risco desmesuradamente ambicioso ao reinventar o emblemático Alien: O Oitavo Passageiro, como uma odisseia filosófica, entre o terror puro (reminiscente do clássico original) e o apelo trágico (Blade Runner, também assinado por Scott, poderia funcionar como uma continuação deste universo, que aqui vai sendo estabelecido), prolongando a ideia do medo em estado puro, como porta de entrada para uma curiosidade metafísica sobre o universo e a criação da vida. E, Covenant é precisamente isso, um seguimento inteligente e sanguinolento, do filme de 2012, onde uma missão colonizadora se vê comprometida, devido a uma aterragem não planeada, num planeta aparentemente desabitado, funciona como pano de fundo para a construção de um universo fascinante, que mesmo depois de sete filmes (claro está, se quisermos contar Alien VS Predator, e a sua malograda sequela), ainda oculta verdades sombrias e chocantes. Scott e o argumentista John Logan (criador da popular série Penny Dreadful, com a qual Alien: Covenant partilha curiosas semelhanças) terão querido recuperar o suspense e a consistência dramática de O Oitavo Passageiro (não, que esses elementos não estivessem presentes em Prometheus, porque estavam, mas aí a abordagem às temáticas apresentadas era bastante diferente, nomeadamente na maneira como dava menos enfoque ao terror) e, conseguem-no com notável sucesso, através de um épico, de tensão implacável e surpresas continuas. Além disso, apetece dizer que só para assistir à virtuosa composição dupla de Michael Fassbender (de novo como David e, introduzindo um novo sintético, Walter), já valeria a pena pagar bilhete. É caso para constatar, que mesmo no cinema norte-americano, dominado pelas sagas, o valor dos atores continua a ser incomensurável.

9/10
Texto de Miguel Anjos

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