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Crítica:

"A Forma da Água"


Raramente deparamos com uma longa-metragem, capaz de reunir o consenso do público, crítica internacional e da indústria americana. No entanto, com “A Forma da Água”, o mexicano Guillermo del Toro conseguiu essa proeza. Afinal, venceu o Leão de Ouro em Veneza, fez belíssimos resultados nas bilheteiras e, com as suas impressionantes 13 nomeações para os Óscares, é encarado como um favorito mais ou menos definitivo para alcançar a mais cobiçada estatueta do mundo hollywoodesco. E, compreende-se, porque o enternecedor encontro romântico entre uma mulher muda (Sally Hawkins, notável) e um ser anfíbio, encontrado na Amazónia, é mesmo um acontecimento como não vemos de maneira frequente (longe disso). Um inspiradíssimo cruzamento de géneros, onde transparece a cinefilia de um dos mais peculiares e fascinantes autores do panorama contemporâneo. Aqui, novamente a trabalhar para relançar os modelos mais “primitivos”, digamos assim, deste realismo mágico, que para falar da nossa atualidade, resolve quebrar os padrões do quotidiano e refugiar-se na mais requintada alegoria.


Realização: Guillermo del Toro
Género: Romance, Fantasia
Duração: 123 minutos

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