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Crítica: "Como Falar com Raparigas em Festas"



John Cameron Mitchell é um dos mais interessantes e incomuns autores contemporâneos, e “Como Falar com Raparigas em Festas” é a prova definitiva disso mesmo. Uma comédia romântica sobre o primeiro amor, com uma energia genuinamente punk muito comovente, que nos transporta até à Inglaterra dos anos 70, quando um jovem terráqueo (uma surpresa chamada Alex Sharp) se apaixona por uma rapariga alienígena (Elle Fanning, sempre uma presença impressionante), que visita uma pequena vila britânica com o seu séquito. Quem conhecer o cinema do americano, saberá também acerca do prazer que o mesmo nutre por retratar o quotidiano de outsiders, gente que simplesmente não consegue encontra um lugar para si mesmo no mundo. Temáticas fundamentais que voltam a manifestar-se numa jubilosa homenagem ao cinema como fábrica de artifícios, no processo, reconfirmando o nome de Cameron Mitchell como um humanista confesso, capaz de conservar uma componente realista direta e contundente, mesmo quando os acontecimentos tendem a cair para o surreal.



Realização: John Cameron Mitchell



Género: Comédia

Duração: 102 minutos

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