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Crítica: "Com Amor, Simon"


Mesmo que não existissem outros méritos para mencionar, Com Amor, Simon já ocuparia um importantíssimo lugar na história do cinema americano, não fosse esta a primeira longa-metragem, produzida por um grande estúdio, centrada numa personagem homossexual. Uma pedra de toque contemporânea, portanto, que ainda se torna mais interessante quando notamos que Greg Berlanti conseguiu ir mais além, e fez um filme que além de representar um enorme passo em frente, é também uma comédia romântica, passada num contexto liceal, como já não víamos há muitos anos. Tudo acontece em torno de Simon Spier (Nick Robinson), um adolescente, que aparentemente vive uma existência pacifica, com os seus pais, irmã e três melhores amigos, no entanto, os seus dias são assombrados pelo medo que sente de revelar ao mundo a sua sexualidade. Mas, a situação altera-se significativamente, quando começa a desenvolver uma relação com um outro rapaz, na sua mesma situação através de uma série de emails, que ambos assinam com pseudónimos. A partir daí, Greg Berlanti (nome maioritariamente associado à produção televisiva), constrói uma narrativa apostada num realismo sincero, pontuado pela presença constante de um sentido de humor muitíssimo inteligente, que começa por nos introduzir a um clima suburbano simpático e pacifico, só para depois nos conduzir a uma reta final absolutamente explosiva, que nos comove genuinamente, e sem necessitar de recorrer a artifícios. Além do mais, o elenco é de um brilhantismo continuo e surpreendente, da sobriedade de Nick Robinson ao carisma de Jorge Lendenborg Jr. Uma pequena delícia.


Realização: Greg Berlanti
Género: Drama, Comédia, Romance
Duração: 110 minutos

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