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"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma
"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada  god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma

CRÍTICA - "UMA PROFISSÃO SÉRIA"

Thomas Lilti é, no mínimo, um autor incomum. Alternando entre o cinema e a medicina, ele é um homem de muitos ofícios. Em "Uma Profissão Séria" , Lilti  reinventa-se. Ele não o planeou assim, mas, "Verdade ou Consequência" (2014), "Médico de Província" (2016) e "Os Caloiros da Medicina" (2018), as suas primeiras longas-metragens, acabaram por formar uma trilogia temática, expondo o quotidiano dos profissionais da saúde, tendo como principal fonte de inspiração as vivências do próprio Lilti e dos seus colegas. "Uma Profissão Séria" foca-se noutro métier, onde Lilti também tem alguma experiência, o do professor. Assim, reencontramos uma figura omnipresente no cinema de Lilti , o ator Vincent Lacoste , uma vez mais, a dar corpo a um "duplo" do cineasta. Desta vez, a personagem é Benjamin Barrois, estudante de medicina que começa a dar aulas, enquanto adia, indefinidamente, a sua tese. Benjamin é de Paris, mas, acaba coloca