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Crítica: Magia Ao Luar (Magic In The Moonlight), de Woody Allen


Nos últimos anos Woody Allen tem-se tornado um realizador de crescente sucesso comercial, atingindo valores surpreendentemente altos nas bilheteiras, sendo que curiosamente esse êxito coincidiu com constantes ataques da parte da crítica que o acusa frequentemente de já não possuir a capacidade criativa do passado e, embora até agora me tivesse mantido um enorme apoiante do cineasta, não há como negar que este "Magia Ao Luar" é um dos seus filmes mais fracos em bastante tempo.
Não que seja péssimo, aliás essa até acaba por ser a coisa que aqui mais nervos causa, é que a espaços Allen toca ideias de enorme interesse, apresenta alguns belos diálogos (já bem típicos do realizador), e até uma narrativa com bastante potencial, mas inexplicavelmente aqui o resultado parece, por vezes, uma espécie de sketch feito com o propósito de parodiar o trabalho do cineasta, caindo, ocasionalmente, em momentos demasiado exagerados.
Mas que não haja dúvidas, o pior de "Magia Ao Luar" são as personagens, em especial os protagonistas (até porque os outros são quase reduzidos a figurantes), isto porque por um lado, temos um péssimo Colin Firth a "arrastar-se" cena após cena, uma personagem com a qual é impossível simpatizar, e por outro lado, Emma Stone (a milhas a melhor atriz do filme) está presa num papel insípido e oco.
Atenção, não quero com isto dizer que "Magia Ao Luar" é um mau filme, porque não o é, trata-se de uma obra divertida, e ocasionalmente inteligente, porém é difícil ultrapassar as suas gritantes falhas, em especial quando estamos na face de tanto potencial. Em suma entretém, mas não fascina.
6/10

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