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Crítica: "Masterminds - Golpada de Mestre", de Jared Hess



Título Original: "Masterminds"
Realização: Jared Hess
Argumento: Chris Bowman, Hubbel Palmer, Emily Spivey
Elenco: Zach Galifianakis, Owen Wilson, Kristen Wiig, Jason Sudeikis, Kate McKinnon, Leslie Jones
Género: Ação, Comédia, Crime
Duração: 94 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 05/10/2016


Crítica: Jared Hess é um cineasta norte-americano, possuidor de um sentido de humor e, de sensibilidade que lhe são muito próprios. Por consequência, acabou por estar sempre associado a um certo estatuto de marginalidade, que pode não apelar às massas mas faz as delicias de quem o percebe e aprecia. "Masterminds - Golpada de Mestre" é, de caras, a maior produção em que já se viu envolvido, tendo tido o apoio de um grande estúdio, um orçamento elevado e um elenco de primeira grandeza, liderado por alguns dos nomes mais badalados da indústria de Hollywood. Ou seja, estariam reunidas todas as condições para que uma das mais inconfundíveis vozes do panorama contemporâneo "renunciasse" as particularidades intrínsecas do seu cinema, para fazer algo para o grande público. Mas, ao fazer essa assunção estaríamos a incorrer em erro, esquecendo uma velha máxima que importa manter fresca na memória: o carácter de um verdadeiro autor é irredutível e que não hajam dúvidas, é precisamente nessa categoria que podemos e devemos colocar um artista como Hess. Desta forma, encontramos nesta sua quinta longa-metragem, baseada na história verídica de um pequeno grupo de criminosos de segunda, do interior dos EUA, que realizaram um dos maiores assaltos da história, roubando 17 milhões a uma empresa de transporte de dinheiro, no final dos anos 90, uma comédia burlesca hilariante e insana, que é também uma crítica contundente à América gananciosa, conservadora e ignorante, que esta galeria de personagens representa e, aí o realizador não se coíbe atirando-se de cabeça para um humor cruel e ácido, que não poupa ninguém e vai ofender muita gente. Nesse processo, é fulcral o trabalho dos atores (de quem Hess sempre gostou muito), em especial, Galifianakis que dá corpo e alma a uma personagem que de tão estúpida acaba por ser tornar adorável e, dois secundários de luxo, Jason Sudeikis e Kate McKinnon tanto um como outro a fazer magia, nos papéis mais rocambolescos de toda a fita (há uma cena homoerótica entre Sudeikis e Galifianakis absolutamente memorável e, McKinnon rouba o filme inteiro nos poucos minutos em que aparece no ecrã).

Texto de Miguel Anjos

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