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Crítica: "O Bosque de Blair Witch", de Adam Wingard


Título Original: "Blair Witch"
Realização: Adam Wingard
Argumento: Simon Barrett
Género: Terror, Thriller
Duração: 89 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 27/10/2016

Crítica: Adam Wingard e Simon Barrett nunca antes tinham tido um filme em exibição no nosso circuito comercial (embora, um dos seus mais importantes títulos tenha aparecido no mercado de VOD), mas são presença regular no alinhamento do MOTELx e os cinéfilos não esquecem os seus nomes. E, com uma filmografia assim tão fascinante torna-se fácil entender porquê. Talvez, por isso a Lionsgate os tenha escolhido para revitalizar uma das mais importantes e influencias sagas da história do cinema de terror. Por outras palavras, "O Projeto Blair Witch" tem finalmente uma continuação digna do elevadíssimo patamar que Daniel Myrick e Eduardo Sánchez estabeleceram em 1999 (em defesa do malogrado segundo filme, haviam ali muito boas ideias mas o estúdio destrui-as por completo numa tentativa falhada de recriar o efeito do original, para tal retirando a montagem das mãos do cineasta Joe Berlinger). Nela, acompanhamos James, irmão de Heather a rapariga que desapareceu no original, que depois de ter acesso a um vídeo onde consegue vislumbrar algo ou alguém parecido com a sua irmã, decide voltar ao bosque no qual tudo se passou para descobrir o que se passou realmente. Mal, ele sabe o quão má essa ideia realmente é… Wingard (cineasta) e Barrett (argumentista) são criadores inteligentes, que começam por construir personagens interessantes e emocionalmente complexas (todas entregues a bons atores, que tal como acontecia na obra de Myrick e Sánchez são ainda completos desconhecidos) que, de facto, queremos seguir ao longo desta viagem aterradora e, só a seguir então começam a aplicar a sua magia e a coordenar uma série de acontecimentos que se vão tornado progressivamente mais macabros e perturbadores, sendo os últimos minutos uma verdadeira tour de force que representa algum do melhor terror puro, que temos visto em anos recentes. Dizer mais seria estragar as boas surpresas que a obra tem reservadas para os que se atreverem a entrar neste bosque, mas que não fiquem dúvidas esta é uma das mais impressionantes sequelas da história do cinema.

Texto de Miguel Anjos

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