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"The Equalizer 2: A Vingança", de Antoine Fuqua


É sempre francamente positivo encontrar um blockbuster contemporâneo, que sabiamente não confunda a mera acumulação de efeitos visuais, com peripécias narrativas fascinantes e personagens genuinamente cativantes. Nesse sentido, apetece mesmo dizer que este “The Equalizer 2: A Vingança”, deixa um sabor eloquentemente classicista na boca do espetador, não por estarmos perante uma obra-prima moderna (longe disso), mas sim porque Antoine Fuqua é um cineasta de outros tempos, capaz de se apoiar em duas valências que estes filmes têm esquecido: os atores e o argumento.


Reencontramos Denzel Washington como Robert McCall, o justiceiro que continua a dedicar o seu quotidiano a proteger os oprimidos, numa continuação que o coloca numa situação dúplice. Por um lado, tenta abandonar a solidão permanente em que vive desde a morte da mulher, ao criar ligações genuínas com duas almas perdidas (um adolescente que tanto pode utilizar os seus talentos artísticos para alcançar um futuro melhor, ou cair nas garras dos gangs locais, e um idoso ainda atormentado pelos horrores do Holocausto). Por outro, quando uma amiga do passado é brutalmente assassinada, o seu código de honra força-o a empregar os seus métodos sanguinolentos para encontrar os culpados.


O resultado, convenhamos, é ligeiramente esquemático, seguindo mais ou menos à risca às convenções do género, no entanto, Fuqua e o argumentista Richard Wenk surpreendem-nos ao dedicar o tempo devido à construção de todas as personagens envolvidas na ação (não apenas o protagonista e o antagonista, mas também os secundários que apenas pontualmente vão surgindo), desse modo, providenciando notória intensidade dramática aos acontecimentos, e preparando um clímax apropriadamente espetacular. E, claro está, Denzel Washington continua uma presença extraordinariamente carismática, ainda que aqui seja rivalizado por uma estrela em ascensão: Ashton Sanders.


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