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CRÍTICA - "MÍNIMOS 2: A ASCENSÃO DE GRU"


A COVID-19 continua aí, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia permanece na ordem do dia, os tiroteios multiplicam-se nos EUA e, por consequência, da mais recente decisão do Supremo Tribunal norte-americano, o aborto começa a ser problematizado novamente. Resumidamente, o mundo ultrapassa um período negro, portanto, nunca precisámos tanto dos Mínimos, a comunidade de incontáveis seres amarelos, em forma de comprimido e cor de banana, possuidores de um sentido de lealdade canina que os impede de abandonar o seu chefe.

Em “Mínimos 2: A Ascensão de Gru”, encontramo-nos em 1976, quando o pequeno Gru (Steve Carrell/Manuel Marques), de apenas 11 anos (e três quartos), sonha em tornar-se num supervilão. Um dia, vê uma oportunidade de se juntar aos 6 Selvagens, uma excêntrica equipa de malfeitores, cujos membros tanto incluem uma freira manejadora de matracas, como um fora-da-lei com uma pata de lagosta gigante em vez de um braço. No entanto, tudo corre mal para o jovem Gru, que se vê no meio de uma batalha entre os 6 Selvagens e o membro fundador do grupo, que se quer vingar dos velhos capangas, que o deixaram à morte… Agora, a vida de Gru, depende dos esforços hercúleos de Kevin, Bob, Stuart e Otto (com Pierre Coffin, coargumentista e corealizador, a oferecer voz aos quatro). Afinal, a mãe pode não querer saber dele para nada, mas os seus Mínimos nunca o abandonarão!


Como previamente mencionado, “Mínimos 2: A Ascensão de Gru” é exatamente o balsamo que necessitávamos nestes tempos tão conturbados. Um “naco” de entretenimento explosivo, que nos providencia muitas e boas razões para soltar uma gargalhada em praticamente todas as cenas, não importa se estamos no princípio, meio ou fim da narrativa, existe sempre alguma coisa delirante a acontecer no ecrã. A produtora franco-americana Illumination, estabeleceu-se, desde o início, como uma casa de animação que privilegia um estilo vibrante e frenético, que dá primazia ao humor físico à moda antiga (não fossem os Mínimos descendentes de gente como Charlie Chaplin, Buster Keaton ou Jerry Lewis), construindo histórias deliciosamente intrincadas em torno de grandes proezas cómicas e estéticas.

Portanto, vá lá, secundarize a praia e preste uma visita aos nossos amigos amarelos, “Mínimos 2: A Ascensão de Gru” é mesmo a rara sequela que consegue suplantar o original. Uma comédia anárquica e consistemente hilariante, repleta de momentos inesquecíveis (o genérico inicial, parodiando a franquia 007, o truque implementado pelos Mínimos para conquistar o coração de Gru, a viagem de avião, etc.) e personagens tremendamente charmosas. Se é diversão que procura, então, é imperativo aceitar o convite dos “Mínimos”.

★ ★ ★ ★
Texto de Miguel Anjos

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