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Crítica: "Black Mass - Jogo Sujo", de Scott Cooper



Título Original: "Black Mass"
Realização: Scott Cooper
Género: Biografia, Crime, Drama
Duração: 122 minutos


Depois de ter protagonizado uma longa lista de projetos falhados, Johnny Depp regressa às nossas "boas graças" com um filme verdadeiramente extraordinário: "Black Mass - Jogo Sujo", a mais recente longa-metragem do jovem cineasta Scott Cooper e a primeira a estrear comercialmente no nosso país (as outras duas, "Crazy Heart" e "Para Além das Cinzas", foram lançadas diretamente para o mercado de home video). Baseado no bestseller homónimo do The New York Times, escrito pelos jornalistas Dick Lehr e Gerard O"Neill (recentemente lançado entre nós pela Marcador), a intriga do filme acompanha com detalhe o período dos anos 80 quando Whitey Bulger (Depp) se impôs em Boston como o barão do crime organizado, afastando a máfia de origem italiana, graças a um entendimento com o FBI. Bulger tornar-se-ia o principal informador das forças federais e, em troca, as autoridades fechavam os olhos aos seus negócios sanguinários e ilegais.

Assumindo um tom negro e brutalmente realista, Cooper e os argumentistas Mark Mallouk e Jez Butterworth compõem uma ambiciosa fita de gangsters "à moda antiga" (claramente reminiscente da trilogia "O Padrinho", assinada por Francis Ford Coppola), com interessantíssimos contornos políticos, que evita a habitual visão romântica do mundo do crime. Além disso, importa salientar o imenso valor do trabalho apresentado pelos atores, e se de facto a composição de Johnny Depp na figura de Bulger tem sido muito destacada e é, sem qualquer dúvida, mais um exemplo da notável capacidade de transfiguração do ator, importa notar que este não é um "one-man-show", e que Depp é apenas uma pequena (embora fundamental) parte de um elenco fabuloso, de onde se destacam particularmente Joel Edgerton (discutivelmente o verdadeiro protagonista do filme), excelente no papel de um agente do FBI que nutre por Bulger uma admiração pouco saudável, e os quatro colaboradores diretos do mafioso vividos com mestria por Rory Cochrane, W. Earl Brown, Jesse Plemons e Scott Anderson. Em suma, "Black Mass - Jogo Sujo" é um glorioso e sofisticadíssimo pedaço de entretenimento, na linha dos melhores exemplares do cinema de mafiosos norte-americano...

Miguel Anjos

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