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Crítica: "Joy", de David O. Russell


Título Original: "Joy"
Realizador: David O. Russell
Argumento: David O. RussellAnnie Mumolo
Elenco: Jennifer LawrenceRobert De NiroBradley CooperÉdgar Ramírez
Género: Comédia, Drama
Duração: 124 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Data De Estreia (Portugal): 07/01/2016
Classificação Etária: M/12

O nome da personagem central do novo filme do norte-americano David O. Russell (autor de títulos como "Guia Para Um Final Feliz" ou "Golpada Americana") confunde-se com uma sugestão de alegria. De facto, a história verídica de Joy Mangano (inventora de muitos objetos para uso doméstico, nomeadamente nas tarefas de limpeza) é um paradoxo vivo: por um lado, há nela uma constante disponibilidade para acudir às muitas atribulações da sua família, desde um cano roto no soalho do quarto da mãe, até às muitas convulsões amorosas do pai, mas, por outro lado, esse misto de afeto e dádiva pode esconder uma solidão individual, à qual é difícil fugir...

Entramos, assim, numa fita que, como já é apanágio do cineasta, fascina pela sua estranheza: uma melancólica, porém divertida fábula sobre o "Sonho Americano" que começa por adotar um tom de comédia quase burlesca, que vai dando lugar a um clima de inusitado intimismo, isto sem nunca perder uma forte ligação a um cinema surreal ou modernista (que, a espaços, traz à memória Gregg Araki ou, até Alain Resnais). Tudo isso, através do trabalho exemplar de um elenco de primeira linha, encabeçado por uma extraordinária Jennifer Lawrence, a nova "musa" do cinema de O. Russell, que domina cada cena e é muitíssimo bem acompanhada por gente como Robert De NiroBradley Cooper e Édgar Ramírez, vê-los interagir (especialmente com um guião tão bem escrito) é um verdadeiro prazer.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10
Texto de Miguel Anjos

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