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Crítica: "E Agora Invadimos o Quê?", de Michael Moore



Título Original: "Where to Invade Next"
Realização: Michael Moore
Género: Documentário
Duração: 120 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 16/06/2016


Desde 2009, quando lançou "Capitalismo: Uma História de Amor", que o documentarista mais polarizador dos nossos dias não dava sinais de vida. Agora, Michael Moore regressa aos ecrãs de cinema nacionais com uma obra fascinante, que coloca o próprio realizador numa viagem por vários países europeus, de bandeira em riste, para tentar perceber que valores sociais e políticos poderiam ser importados para os Estados Unidos. Desta forma, entramos num filme assumidamente político, temperado por um desconcertante sentido de humor, que confirma o estatuto do cineasta enquanto um corajoso contestatário que, acima de tudo, parece interessado em utilizar a sua arte para encontrar soluções para os muitos problemas que assolam a sua nação e compatriotas. E, se é verdade que há nessa ideia algo de muito utópico (Moore, que tem isso bem presente na consciência, aproveita a reta final para tocar nesse ponto, com aquela sequência belíssima, em Berlim, a lembrar como o Muro, que se julgava eterno, caiu de um dia para o outro), não deixa também de ser verdade que existe nessa utopia uma grande dose de humanidade, não estivéssemos nós perante o trabalho de alguém que nunca deixou de se preocupar com os problemas reais das pessoas, em dar voz aqueles que não a têm, em lutar por um mundo melhor. Bonito gesto, grande filme.

Texto de Miguel Anjos

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