Avançar para o conteúdo principal
Crítica: "Maggie tem um Plano", de Rebecca Miller



Título Original: "Maggie's Plan"
Realização: Rebecca Miller
Argumento: Rebecca MillerKaren Rinaldi
Elenco: Greta Gerwig, Ethan HawkeMaya RudolphBill HaderTravis FimmelJulianne Moore
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 98 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 23/06/2016


Greta Gerwig começou a sua carreira numa série de comédias de baixíssimo orçamento, entre as quais se incluíam títulos como "LOL" ou "Hannah Takes the Stairs", onde deixava antever um talento invulgar para retratar as convulsões do crescimento. Porém, em anos recentes, Gerwig tem vindo a protagonizar produções de maior escala, que a cimentaram como uma das mais eletrizantes presenças, que atualmente, agraciam os nossos ecrãs de cinema, com um misto de tristeza e euforia, que é verdadeiramente inconfundível. Posto isto (e, em parte, devido ao sucesso de títulos como "Frances Ha" ou "Mistress America"), a atriz parece ter conseguido uma proeza dupla, por um lado, tornar-se numa estrela no circuito independente norte-americano e, por outro, dar nova vida a um subgénero, que nos dias que correm parece ser só seu. Que subgénero é esse? A comédia nova-iorquina, que encontra nalguns títulos assinados por Woody Allen durante a década de 80, os seus exemplos mais famosos. Assim é "Maggie Tem Um Plano", um filme de uma inteligência notável, com deliciosos contornos de farsa, que acompanha a história de uma professora universitária, decidida a controlar todos os aspetos da sua vida, sendo o mais importante de todos eles tornar-se mãe. Como não pode (nem quer) esperar até conseguir construir uma relação estável com outra pessoa, procura um doador de esperma compatível, que encontra em Guy, um "empresário de pickles", como o próprio se descreve. No entanto, tudo muda quando conhece e se apaixona por John, um professor temporário e aspirante a escritor, que vive preso numa relação sufocante com a sua esposa. Escrito e realizado pela norte-americana Rebecca Miller (cineasta por detrás dos excelentes "A Balada de Jack e Rose" e "As Vidas Privadas de Pippa Lee"), entramos assim numa fita com muita piada e coração, sobre as muitas e inesperadas convulsões não só do crescimento, mas também da vida em geral, com diálogos mordazes e um elenco de exceção, de onde se destacam especialmente, Gerwig perfeita como sempre e uma revelação chamada Travis Fimmel, que se afasta da sua imagem de durão (cultivada na popular série "Vikings"), com um papel bastante curioso, não seria de estranhar ver os seus nomes na próxima temporada de prémios… Enfim, está encontrado um dos filmes mais encantadores deste nosso verão cinematográfico.

Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

CRÍTICA - "THE APPRENTICE - A HISTÓRIA DE TRUMP"

"The Apprentice", em Portugal, acompanhado pelo subtítulo "A História de Trump", tornou-se num dos filmes mais mediáticos do ano antes de ser revelado ao público, em maio, no Festival de Cannes, "poiso" habitual do seu autor, o iraniano-sueco-dinamarquês Ali Abbasi. De facto, os tabloides tiveram muito por onde pegar, houve um apoiante de Donald Trump que, inconscientemente, terá sido um dos financiadores de "The Apprentice" (só podemos especular que terá assumido que o filme se tratava de uma hagiografia, de pendor propagandístico), a campanha de boicote que Trump e a sua comitiva lançaram contra o filme, a dificuldade de encontrar um distribuidor no mercado norte-americano (nenhum estúdio quer ter um possível Presidente como inimigo), etc. A polémica vale o que vale (nada), ainda que, inevitavelmente, contribua para providenciar um ar de choque a "The Apprentice", afinal, como exclamam (corretamente) muitos dos materiais promocionais ...

"Flow - À Deriva" ("Straume"), de Gints Zilbalodis

Não devemos ter medo de exaltar aquilo que nos parece "personificar", por assim dizer, um ideal de perfeição. Consequentemente, proclamo-o, sem medos, sem pudores, "Flow - À Deriva", do letão Gints Zilbalodis é um dos melhores filmes do século XXI. Um acontecimento estarrecedor, daqueles que além de anunciar um novo autor, nos providencia a oportunidade rara, raríssima de experienciar "cinema puro". O conceito é simultaneamente simples e complexo. Essencialmente, entramos num mundo que pode ou não ser o nosso, onde encontramos apenas natureza, há resquícios do que pode, eventualmente, ter sido intervenção humana, mas, permanecem esquecidos, abandonados, nalguns casos, até consumidos pela vegetação. Um dia, um gato, solitário por natureza, é confrontado com um horripilante dilúvio e, para sobreviver, necessita de se unir a uma capivara, um lémure-de-cauda-anelada e um cão. Segue-se uma odisseia épica, sem diálogos, onde somos convidados (os dissidentes, cas...

"Oh, Canada", de Paul Schrader

Contemporâneo de Martin Scorsese, Steven Spielberg e Francis Ford Coppola, Paul Schrader nunca conquistou o estatuto de "popularidade" de nenhum desses gigantes... e, no entanto (ou, se calhar, por consequência de), é, inquestionavelmente, o mais destemido. Em 1997, "Confrontação", a sua 12ª longa-metragem, tornou-se num pequeno sucesso, até proporcionou um Óscar ao, entretanto, falecido James Coburn. Acontece que, o mediatismo não o deslumbrou, pelo contrário, Schrader tornou-se num cineasta marginal, aberto às mais radicais experiências (a título de exemplo, mencionemos "Vale do Pecado", com Lindsay Lohan e James Deen). Uma das personas mais fascinantes do panorama cultural norte-americano, parecia ter escolhido uma espécie de exílio, até que, "No Coração da Escuridão", de 2017, o reconciliou com o público. Aliás, o filme representou o início de uma espécie de trilogia, completada por "The Card Counter: O Jogador", em 2021, e "O ...