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Crítica: "O Clube", de Pablo Larraín


Título Original: "El Club"
Realização: Pablo Larraín
Argumento: Guillermo CalderónPablo LarraínDaniel Villalobos
Elenco: Alfredo Castro, Roberto Farías, Antonia Zegers
Género: Drama
Duração: 98 minutos
País: Chile
Ano: 2015
Distribuidor: Alambique Filmes
Classificação Etária: M/18
Data de Estreia (Portugal): 09/06/2016

Depois de "Não" (2012), o chileno Pablo Larraín prenunciara o fim da sua trilogia dedicada à ditadura de Pinochet. Porém, em "O Clube" (que, esta semana, chega aos nossos ecrãs), ficamos a saber que tal era apenas parcialmente verdade, uma vez que neste clube muito particular, o cineasta transporta-nos novamente para um universo arrepiante e opressivo, onde subsistem as relações de um poder tentacular invisível, neste caso a Igreja Católica e a forma como esta afasta dos fiéis, determinados sacerdotes com passado de pedofilia. Entramos assim nesse universo, começando por ser confrontados com os rituais de treino de um galgo ("o único cão mencionado na Bíblia", como diz uma das personagens a certo ponto), a cargo de um dos protagonistas, visando a participação em corridas que naquela zona se organizam. Tudo parece sereno, naquele microcosmos de muitos silêncios, mas tal coisa não tarda a mudar, devido ao aparecimento de um companheiro recentemente caído em desgraça, que traz consigo pecados de um passado que os habitantes daquela casa julgavam ter deixado para trás. Trata-se de um filme absolutamente magistral, onde Larraín se volta a provar como um cineasta de um talento invulgar para a construção de narrativas complexas e pertinentes, capazes de olhar para os dilemas internos do seu país sem receios. Não será um filme fácil, mas é de visionamento obrigatório e, facilmente, o melhor que já vimos do chileno.

Texto de Miguel Anjos

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