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Crítica: "A Maldição da Casa Winchester"


“O Último Vampiro” e “Predestinado” já anunciavam os irmãos Michael e Peter Spierig, como vozes francamente interessantes no panorama contemporâneo da série B fantástica. Possuindo dotes pouco comuns, para providenciar humanismo e muita astucia a conceitos classicamente enraizados nesses cânones. Agora, passada uma breve aventura no interior da máquina de produção dos grandes estúdios americanos, eis que os reencontramos num território mais modesto, que lhes assenta muito melhor. Falamos de uma simpática ficção, baseada nos incontáveis mitos que marcaram a construção da mansão Winchester, a casa assombrada que a herdeira da empresa de armas de fogo homónima, começou a construir em 1884 e, nunca parou de expandir até ao seu falecimento em 1922. Utilizando enquanto pretexto a visita de um psiquiatra caído em desgraça, contratado pelos infelizes membros do conselho de administração da Winchester Repeating Arms Company, para determinar o estado de saúde mental da viúva, os Spierig montaram um requintado carrossel de sustos à moda antiga, que nem ambiciona reinventar o género, nem subverter aquelas suas regras tão indelevelmente enraizadas na nossa memória, apenas fornecer ao espetador duas horas de entretenimento sobrenatural atmosférico e despretensioso, ancorado em duas belíssimas interpretações de Jason Clarke e Helen Mirren.


Género: Terror
Duração: 99 minutos

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