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"Arkansas: Rei do Crime", de Clark Duke


Clark Duke possui uma daquelas caras que quase todos os espetadores reconhecerão com facilidade, mesmo que não tenham o seu nome na ponta da língua. No entanto, isso pode e deve mudar com esta sua primeira incursão pela realização de longas-metragens. Chama-se Arkansas, nome da cidade natal do ator tornado e cineasta, que serve de pano de fundo aos acontecimentos sanguinolentos que acompanhamos durante pouco mais de 90 minutos e, em Portugal, recebeu o subtítulo Rei do Crime, que não sendo despropositado, rouba um pouco da magia desta comédia de mafiosos. Porquê? Pois bem, porque ao encenar a saga de dois criminosos inexperientes que acabam por se perder num submundo impiedoso, Duke consegue criar um thriller envolvente, com um genuíno impacto humano e um sentido de humor subtil, que pinta um retrato acutilante da natureza cíclica do universo do narcotráfico, expondo a maneira como até as mais brutais demonstrações de violência se tornaram em peças intrínsecas daquele ecossistema. Além disso, Arkansas: Rei do Crime beneficia ainda de uma galeria de personagens tremendamente carismáticas, encarnadas por um elenco em estado de graça, sendo especialmente notória a composição de raras nuances emocionais do veterano Vince Vaughn, aqui nos antípodas das comédias que fizeram dele uma estrela.

Texto de Miguel Anjos

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