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"Freaks", de Zach Lipovsky e Adam B. Stein


Depois de escapar ao controlo possessivo e paranóico do pai, uma rapariga descobre um estranho e ameaçador novo mundo para lá da sua porta de casa… Importa não explicitar muitos detalhes sobre o filme, evitando revelar demasiado sobre os seus desenvolvimentos. Afinal de contas, esta é mesmo uma história em que o suspense se assume enquanto um elemento fundamental. Digamos, então, para simplificar, que estamos perante uma narrativa que tende para uma dimensão fantasiosa, sem nunca excluir uma componente social pertinente e inquietante. Acima de tudo, o duo composto por Zach Lipovsky e Adam B. Stein consegue providenciar-nos uma experiência invulgar, que começa por assumir os contornos de um thriller minimalista e, lentamente, vai entrando no campo da fábula. De facto, não é todos os dias que encontramos uma proposta tão peculiar como Freaks. Isto é, uma alegoria aberta a várias leituras possíveis, que se distingue por um argumento que consegue sempre trocar as voltas ao espetador e por um elenco sublime, de onde é necessário sublinhar o desempenho de Emile Hirsch. Além disso, como não ficar rendido a um terceiro ato que, ao utilizar a criatividade para ultrapassar limitações orçamentais nos providencia um clímax de uma só vez comovente e impactante? Enfim, uma maravilha de filme.

Texto de Miguel Anjos

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