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Crítica: "A Canção de Lisboa", de Pedro Varela


Título Original: "A Canção de Lisboa"
Realização: Pedro Varela
Argumento: Pedro Varela
Elenco: Cesár Mourão, Luana Martau, Miguel Guilherme, Marcus Majella, Maria Vieira, São José Lapa, Carla Vasconcelos, Dinarte FreitasDmitry Bogomolov, Ruy de Carvalho
Género: Comédia
Duração: 111 minutos
País: Portugal
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 14/07/2016

Crítica: Há mais ou menos um ano atrás (e, só dizemos mais ou menos, porque os nossos leitores mais dedicados saberão que ainda só passaram onze meses e duas semanas), as salas de cinema recebiam o remake "O Pátio das Cantigas", de Leonel Vieira, que mesmo tendo sido recebido de forma intensamente hostil pela crítica, se tornou num gigantesco fenómeno de apreço popular, tendo vendido 607.628 mil bilhetes, qualificando-se assim como o filme português mais visto de sempre (ou, pelo menos, desde que o ICA começou a revelar esses dados). Agora, chegado a temporada de verão, durante a qual, já se sabe, a vontade do público de ver este tipo de comédias ligeiras cresce sempre imenso, Pedro Varela (argumentista do "Pátio"), substitui Vieira na realização e, assina o terceiro (entre os dois, houve "O Leão da Estrela", mas quanto menos se disser acerca desse melhor) e, último filme da chamada trilogia dos "Novos Clássicos". Desta vez, a base é "A Canção de Lisboa" (1933), de José Cottinelli Telmo, que nesta nova versão acompanha Vasco (César Mourão, num papel que no original coube a Vasco Santana), um estudante de medicina, muito pouco investido nos seus estudos, que vive em Lisboa às custas das suas tias (Maria Vieira e São José Lapa), que vivem no Porto e, o consideram um jovem trabalhador. Mas, Vasco é um calão e, está bem mais interessado em mulheres e numa carreira de cómico de stand up, do que na medicina. Ainda assim, tudo corre bem na sua vida, até que as tias (que, entretanto, entraram em bancarrota) anunciam uma inesperada visita a Lisboa. A partir daí, o cineasta (que, acumula funções enquanto argumentista) constrói uma fita bem simpática, que mesmo não atingindo elevados patamares de qualidade ou inovação, funciona bem dentro deste registo mais ligeiro e, tem suficientes gargalhadas e situações divertidas para se tornar recomendável. Além de que, pela primeira vez, nesta saga (se é que lhe podemos chamar isso) temos um cineasta capaz de aproveitar o talento dos seus intérpretes e, nesse respeito, importa dar devido destaque à excelente dupla constituída por Miguel Guilherme e Marcus Majella, que roubam todas as cenas em que aparecem.

Texto de Miguel Anjos

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