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Crítica: "Uma Guerra", de Tobias Lindholm



Título Original: "Krigen"
Realização: Tobias Lindholm
Argumento: Tobias Lindholm
Elenco: Pilou Asbæk, Dar Salim, Tuva Novotny
Género: Crime, Drama, Guerra
Duração: 115 minutos
País: Dinamarca
Ano: 2015
Distribuidora: Lanterna de Pedra Filmes
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 14/07/2016


Crítica: E, porque o cinema é também um extraordinário fenómeno de linguagem, com a capacidade de ultrapassar barreiras linguísticas e culturais, eis que passada uma semana desde que fomos apanhados de surpresa pela morte do icónico cineasta norte-americano Michael Cimino, chega aos nossos ecrãs uma pequena produção dinamarquesa, que nos traz à memória um dos títulos centrais da sua filmografia, "O Caçador" (1976). Chama-se "Uma Guerra" e, à semelhança desse clássico, consiste numa experiência absolutamente visceral, que se afasta das matrizes do género (nomeadamente, o "filme de guerra"), para levar o espetador numa viagem transcendentemente intimista e aterradora, pela psique daqueles que viram as suas vidas, irremediavelmente, mudadas pelos horrores da guerra. Desta feita, a história acompanha Claus Michael Pedersen (composição fenomenal, quase silenciosa, de Pilou Asbæk), comandante de uma companhia, situada numa província no Afeganistão, que se vê forçado a tomar uma decisão que lhe poderá valer uma distinção de criminoso de guerra, de modo a salvar os seus homens depois de ficarem presos numa situação violentíssima. Filmado, por vezes, de forma quase documental, privilegiando um certo "realismo à flor da pele" e, apostando sempre na componente humana da história, o realizador/argumentista Tobias Lindholm (que, escreveu o notável "The Hunt - A Caça" e, responsável por alguns episódios da excelente série televisiva "Borgen"), constrói uma obra ambígua, subtil e tocante, com uma atmosfera implacavelmente intensa que prende do início ao fim e, possui até um final serenamente arrasador, que encerra este grande filme, na perfeição. De facto, "Uma Guerra" é similar a nível temático com certos clássicos entre os quais "O Caçador" ou até ao recente "Estado de Guerra" e, merece inteiramente ser mencionado juntamente com essas obras-primas.

Texto de Miguel Anjos

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