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Crítica: "Lights Out - Terror na Escuridão", de David F. Sandberg


Título Original: "Lights Out"
Realização: David F. Sandberg
Argumento: Eric Heisserer
Elenco: Teresa Palmer, Gabriel Bateman, Maria Bello, Alexander DiPersia
Género: Terror
Duração: 81 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 21/07/2016

Crítica: Tudo começou em 2013, quando o sueco David F. Sandberg rodou uma brilhante curta-metragem de terror de apenas três minutos (pode ser vista aqui), chamada "Lights Out", onde uma mulher que se prepara para ir para cama no seu apartamento, descobre uma estranha silhueta, que se manifesta sempre que apaga as luzes e, se desvanece quando as mesmas voltam a ser acesas. O sucesso foi instantâneo e, entre os muitos fãs contava-se James Wan, o argumentista, cineasta e produtor, que é hoje um dos mais influenciais, aclamados e bem-sucedidos nomes da indústria cinematográfica internacional graças ao sucesso de fitas imediatamente icónicas como "Saw", "Insidious" ou "The Conjuring". Assim, Wan decidiu juntar esforços com a sua produtora de eleição (a Warner Bros.) e, ajudar Sandberg a transformar a sua curta numa longa-metragem de estúdio. O resulta é uma fita indescritivelmente brilhante, que seduz e fascina, especialmente, pela forma notável como combina uma componente dramática fortíssima, com uma narrativa de terror muito bem construída. Nela, acompanhamos a história de uma rapariga (Teresa Palmer), que vê forçada a confrontar os seus medos de infância que pensava ter deixado para trás, quando o irmão mais novo (Gabriel Bateman) se começa a queixar de insónias relacionadas com uma figura estranha, que se manifesta no escuro e partilha uma ligação forte com a mãe dos dois (Maria Bello), uma mulher mentalmente instável. Uma premissa interessante, que ganha uma nova dimensão nas mãos de Sandberg, que com a preciosa ajuda do argumentista Eric Heisserer (um outro veterano do género), constrói um filme criativo, inteligente e (sempre importante) majestosamente encenado (a uma sequência a envolver uma arma de fogo e, a luz que emana dos disparos, que por si só, deveria valer a Sandberg um prémio), com personagens bem desenhadas e interpretadas (o pequeno Bateman é simplesmente prodigioso e, Bello demonstra uma devoção quase comovente num papel bastante complexo) que ajudam a criar uma maior ligação emocional entre o espetador e aquilo que se está a passar no ecrã. Além de que, a semelhança daquilo que já acontecia em títulos recentes como "O Senhor Babadook" ou "Vai Seguir-te", o horror que aqui é demonstrado aparece como uma metáfora para problemas, porventura, ainda mais aterradores, como neste caso a dor, o pavor da insanidade eminente, sem esquecer, as memórias reprimidas de uma infância traumática. "Lights Out" é assim uma espantosa e imponente proeza técnica, com uma componente humana surpreendente, que começa como algo negro e aterrador, só para depois se transformar em algo visceralmente tocante e deveras belo.

Texto de Miguel Anjos

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