Avançar para o conteúdo principal
Crítica: "Caça-Fantasmas", de Paul Feig


Título Original: "Ghostbusters"
Realização: Paul Feig
Argumento: Katie DippoldPaul Feig
Elenco: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon, Leslie JonesChris Hemsworth
Género: Comédia, Fantasia, Ficção-Científica
Duração: 116 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: Big Picture
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 21/07/2016

Crítica: Vivemos em tempos estranhos, onde diariamente nascem novas questões controversas, maioritariamente, estapafúrdias que apenas servem para divertir aquela malta das redes sociais, que precisam de dizer mal de alguma coisa para se entreterem. Exemplo bastante claro de tal fenómeno foi o remake que Paul Feig (autor de algumas das mais aclamadas comédias dos últimos anos) fez ao clássico de Ivan Reitman, "Os Caça-Fantasmas" (1984). Mas, pergunta o caro leitor que, porventura, não tem tempo (nem pachorra) para dedicar a essas coisas, que tipo de polémica pode um remake de uma comédia de terror dos anos 80 (admitidamente excelente, não é essa a questão) gerar? Pois bem, acontece que Feig decidiu cometer sacrilégio de mudar o sexo do quarteto de protagonistas, dando origem a uma onda de ódio como nunca antes tínhamos visto, onde não faltaram ameaças reais de violência física direcionadas aos envolvidos. Uma rebelião que, importa notar, liderada pelos mesmos "ativistas" online que acusam Hollywood de ser misógina, por não produzir filmes suficientes acerca de mulheres. Enfim, é um conturbado historial de produção que nada tem a ver com a qualidade do filme em si e, que em última instância acabou por se provar como uma tentativa frustrada de boicote que acabou em falhanço e, para o provar basta olhar para os robustos resultados de bilheteira e as críticas extremamente positivas (por uma vez, o mal foi derrotado). E, ainda bem, porque Feig fez um excelente trabalho com esta sua reinvenção, construindo uma comédia absolutamente hilariante, embutida de deliciosos elementos de terror, com um elenco impecável (destaque especial, tem de ser dado a Kate McKinnon e Chris Hemsworth, ambos em performances cómicas para lá de brilhantes), que encontra uma nova e inteligente forma de abordar esta história e, de a apresentar a novas gerações (os fãs do original que estejam abertos a tal, serão também eles surpreendidos pela positiva), provando uma vez mais o talento de Feig para a criação de histórias humanas (a narrativa incorpora temáticas clássicas do seu cinema como, por exemplo, o bullying) com muita piada. Além do mais, os protagonistas originais (exceção feita, ao falecido Harold Ramis, como é óbvio) regressam para cameos impagáveis (sendo o de Bill Murray, como um cético irrascível especialmente saboroso) e, o clímax toda uma proeza de realização a equilibrar com mestria sequências de ação de encher o olho e um sentido de humor que tem tanto de delirante como de infalível. A grande comédia deste verão pode estar aqui.

Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

CRÍTICA - "THE APPRENTICE - A HISTÓRIA DE TRUMP"

"The Apprentice", em Portugal, acompanhado pelo subtítulo "A História de Trump", tornou-se num dos filmes mais mediáticos do ano antes de ser revelado ao público, em maio, no Festival de Cannes, "poiso" habitual do seu autor, o iraniano-sueco-dinamarquês Ali Abbasi. De facto, os tabloides tiveram muito por onde pegar, houve um apoiante de Donald Trump que, inconscientemente, terá sido um dos financiadores de "The Apprentice" (só podemos especular que terá assumido que o filme se tratava de uma hagiografia, de pendor propagandístico), a campanha de boicote que Trump e a sua comitiva lançaram contra o filme, a dificuldade de encontrar um distribuidor no mercado norte-americano (nenhum estúdio quer ter um possível Presidente como inimigo), etc. A polémica vale o que vale (nada), ainda que, inevitavelmente, contribua para providenciar um ar de choque a "The Apprentice", afinal, como exclamam (corretamente) muitos dos materiais promocionais ...

"Flow - À Deriva" ("Straume"), de Gints Zilbalodis

Não devemos ter medo de exaltar aquilo que nos parece "personificar", por assim dizer, um ideal de perfeição. Consequentemente, proclamo-o, sem medos, sem pudores, "Flow - À Deriva", do letão Gints Zilbalodis é um dos melhores filmes do século XXI. Um acontecimento estarrecedor, daqueles que além de anunciar um novo autor, nos providencia a oportunidade rara, raríssima de experienciar "cinema puro". O conceito é simultaneamente simples e complexo. Essencialmente, entramos num mundo que pode ou não ser o nosso, onde encontramos apenas natureza, há resquícios do que pode, eventualmente, ter sido intervenção humana, mas, permanecem esquecidos, abandonados, nalguns casos, até consumidos pela vegetação. Um dia, um gato, solitário por natureza, é confrontado com um horripilante dilúvio e, para sobreviver, necessita de se unir a uma capivara, um lémure-de-cauda-anelada e um cão. Segue-se uma odisseia épica, sem diálogos, onde somos convidados (os dissidentes, cas...

CRÍTICA - "MEMÓRIA"

Michel Franco é um cineasta empático? O termo raramente lhe foi associado, aliás, títulos como "Nova Ordem" ou "Crepúsculo" levaram muitos a acusá-lo de sadismo, apoiando-se permanentemente num niilismo incessante para encenar as mais abjetas barbaridades. Enfim, temos de assumir que quem levanta essas acusações nunca viu, por exemplo, "Chronic", o seu primeiro filme em inglês, onde não era possível fechar os olhos ao humanismo. Em "Memória", encontramo-lo na sua melhor forma, pronto para confundir os seus detratores, com um filme... "fofinho", devastador é certo, mas, "fofinho" na mesma. É o conto de Sylvia (Jessica Chastain), uma assistente social, profundamente traumatizada pelos abusos sexuais que sofreu, primeiro, às mãos do pai e depois, de um ex-namorado, e Saul (Peter Sarsgaard), cuja vida é moldada e, acima de tudo, condicionada por uma doença degenerativa debilitante. É um conceito, no mínimo, complexo, quanto mais n...