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Crítica: "A Lenda do Dragão", de David Lowery


Título Original: "Pete's Dragon"
Realização: David Lowery
Argumento: David LoweryToby Halbrooks
Elenco: Bryce Dallas Howard, Robert Redford, Oakes Fegley, Oona Laurence, Wes Bentley, Karl Urban
Género: Aventura, Família, Fantasia
Duração: 102 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/6
Data de Estreia (Portugal): 11/08/2016

Crítica: Há uns anos atrás, o norte-americano David Lowery assinou aquele que fica como um dos melhores (e mais subvalorizados) filmes da década, chamado "Ain't Them Bodies Saints" (entre nós, foi criminosamente circunscrito ao mercado de DVD). Por razões mais ou menos óbvias (era uma pequena produção independente, sem grande potencial para incendiar as bilheteiras), a fita não foi um gigantesco sucesso de bilheteira, mas a Disney reparou nele e, decidiu convidá-lo para dirigir um projeto manifestamente distinto: nada mais, nada menos que uma adaptação de imagem real do clássico de animação de 1977, "Pete's Dragon" (entre nós, lançado como "Meu Amigo o Dragão"). E, se de facto alguém como Lowery possa parecer uma escolha algo bizarra para dirigir um blockbuster (nunca antes tinha feito nenhum filme que chegasse perto de poder ser classificado como sendo comercial, quanto mais uma grande produção de estúdio), a verdade é que a Disney não poderia ter encontrado alguém melhor para o trabalho, uma vez que ao utilizar as marcas narrativas e estilísticas que já se faziam notar na sua longa anterior, o realizador constrói um filme familiar como não víamos há anos. Uma espécie de "E.T. O Extraterrestre" com toques de Terrence Mallick, que comove genuinamente (este é para ver com o pacote de lenços na mão) e, espanta pela sua simplicidade, constituindo assim aquele que é, desde logo, uma das mais inspiradas fábulas dos últimos anos. Além do mais, é de louvar a forma admitidamente classicista como Lowery conta esta história de amizade entre um rapaz e o seu fiel dragão, resistindo a clichés e abraçando uma noção de intimismo (cruzada com uma boa dose de espetacularidade, é certo), no mínimo, invulgar no que a uma produção desta escala diz respeito, deixando a narrativa avançar de forma orgânica e sem pressas, e trabalhando as suas personagens constante e consistentemente. O resultado, não é só uma das boas surpresas do ano, mas sim um dos seus melhores filmes.

Texto de Miguel Anjos

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