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Crítica: "Os Traficantes", de Todd Phillips


Título Original: "War Dogs"
Realização: Todd Phillips
Argumento: Stephen ChinTodd Phillips
Elenco: Miles TellerJonah HillAna de Armas
Género: Comédia, Drama, Guerra
Duração: 114 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 18/08/2016

Crítica: De Michael Bay (no extasiante "Dá & Leva") a Sofia Coppola (com o belíssimo "The Bling Ring"), têm sido muitos os cineastas norte-americanos, que nos últimos anos se têm debruçado sobre histórias verídicas onde a ganância (geralmente, associada à busca pelo sonho americano) conduz a uma crescente e perturbadora perda de valores morais, com tendência para provocar resultados trágicos. Agora, pudemos acrescentar mais um nome à lista, Todd Phillips, o autor de algumas das mais célebres comédias burlescas dos nossos dias (como o seminal "Dias de Loucura"), vira-se para uma odisseia mais dramática e, no processo demonstra uma versatilidade que não lhe conhecíamos. O filme em causa é "Os Traficantes", um conto moral gélido sobre a perseguição da riqueza, que mesmo nos seus momentos mais humorísticos (e, há vários), tem por baixo de um delirante sarcasmo um desencanto total. Nele, conta-se a história verídica de dois amigos, que se aproveitam de alguns "buracos" legais, para montar um enorme esquema de venda de armas ao exército dos EUA, no Afeganistão, que fez deles milionários. Phillips é um realizador dinâmico, que encena esta fascinante trama com mestria e, mais importante soube contratar uma dupla de excelentes atores que dão vida a estas personagens na perfeição, são eles Miles Teller, afável como sempre no papel de um jovem inocente e de bom coração, que se vê atraído pelo imaginário do sucesso e, um fulgurante Jonah Hill, numa performance que além de implicar uma transfiguração física impressionante, ainda o coloca num constante jogo de enganos, dando corpo a uma personagem que vai alterando o seu comportamento quase constantemente consoante lhe seja mais vantajoso. Uma boa surpresa…

Texto de Miguel Anjos

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