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Crítica: "Horizonte Profundo - Desastre no Golfo", de Peter Berg



Título Original: "Deepwater Horizon"
Realização: Peter Berg
Argumento: Matthew Michael Carnahan, Matthew Sand
Elenco: Mark Whalberg, Kurt Russell, Gina Rodriguez, Dylan O'Brien, Kate Hudson
Género: Ação, Drama, Thriller
Duração: 107 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: Pris Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 29/06/2016


Crítica: Ao longo destes últimos anos, temos tido a oportunidade e o prazer de assistir ao crescimento de um cineasta, que hoje se conta entre os mais interessantes da produção norte-americana contemporânea. Falamos de Peter Berg, possuidor de uma versatilidade pouco habitual e, de uma talento nato para a construção de narrativas que giram à volta das suas personagens e não o contrário (uma característica absolutamente fundamental de qualquer bom contador de histórias, que muita gente não tem). Esta semana, regressa aos nossos ecrãs com "Horizonte Profundo - Desastre no Golfo", uma experiência visceral e brutalmente impressiva, capaz de transportar o espetador para o centro da explosão e, de o fazer sentir o sufoco do caos, das chamas. No centro de tudo isto, está a história real e, amplamente noticiada da explosão da plataforma petrolífera da BP Deepwater Horizon que esteve na origem do maior derrame de crude de sempre. Nas mãos de alguém menos talentoso, os resultados poderiam ser mais ou menos redundantes, porém com Berg aos comandos deste "navio" acabamos por descobrir uma fita de excelência, com uma tensão implacável e um elenco de primeira água (Mark Whalberg é um destaque óbvio, mas não podemos, nem devemos, esquecer um Kurt Russell em "estado de graça") e, nesse aspeto importa ressalvar um trabalho verdadeiramente irrepreensível no que toca à construção de personagens, capazes de guiar o espetador pelo caos imenso, que toma conta do filme na segunda metade. Acima de tudo, Berg fez um thriller de cortar o fôlego como existem poucos, mas não se ficou por aí e quis também encontrar a componente humana no meio de um desastre de proporções inimagináveis e, é aí que "Horizonte" se diferencia de tudo o resto que temos visto dentro do género recentemente. Posto de outra forma, ao cruzar grande espetáculo com humanismo, Berg construiu um filme densamente empolgante e, verdadeiramente comovente, que precisa de ser visto no maior ecrã possível.

Texto de Miguel Anjos

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