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Crítica: "Salsicha Party", de Conrad Vernon, Greg Tiernan



Título Original: "Sausage Party"
Realização: Conrad Vernon, Greg Tiernan
Argumento: Kyle Hunter, Ariel Shaffir, Seth Rogen, Evan Goldberg
Elenco: Seth Rogen, Kristen Wiig, Jonah Hill, Michael Cera, James Franco, Danny McBride, Craig Robinson, Paul Rudd, Nick Kroll, David Krumholtz, Edward Norton, Salma Hayek
Género: Animação, Aventura, Comédia
Duração: 89 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: Big Picture Films
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 15/09/2016


Crítica: Pode um filme de animação com produtos de supermercado como protagonistas, funcionar como uma excelente e refinada fábula existencial sobre a relação que os seres humanos mantêm com a religião e, consequentemente, com as diferentes religiões, sem nunca esquecer, como é óbvio, o ateísmo? Mas, é claro que sim. E, para o provar, está aí aquela que é bem capaz de ser a melhor e mais ousada comédia do ano: "Salsicha Party", de Greg Tiernan e Conrad Vernon (ambos cineastas veteranos do panorama da animação, ainda que em produções mais apontadas a um público infantil). A odisseia de Frank (Seth Rogen, também um dos argumentistas e produtores da fita), uma salsicha, que tem vivido na ansiosamente esperando que um consumidor leve a sua embalagem para casa. É, que ele tal como todos os outros produtos, foi doutrinado na crença de que, do lado de lá das portas automáticas do supermercado em que vive com os seus companheiros, existe um lugar chamado "The Great Beyond", governado por deuses (os humanos) que prometem tomar conta destes produtos para a eternidade. Porém, esse suposto paraíso é posto em causa, quando um frasco de mostarda recentemente devolvido comete suicídio. De caras está aqui um clássico imediato, o tipo de filme que se será descoberto e redescoberto ao longo dos anos, não só pela brilhante coleção de episódios cómicos hilariantes (uma orgia entre produtos de supermercado é das coisas mais espetacularmente insanas que algum dia iremos ver), mas também pela sua capacidade de inserir um fascinante e inesperado subtexto de crítica social, examinando com um sentido de humor perverso a importância da religião na sociedade atual e, a forma como não raras vezes esta se manifesta de forma mais negativa que positiva. Além do mais, o elenco de vozes é exemplar e, como não falar nisso, "Salsicha Party" resolve o conflito israelo-palestiniano e nenhum outro filme jamais feito se pode gabar disso.

Texto de Miguel Anjos

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