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Crítica: "Capitão Fantástico", de Matt Ross


Título Original: "Captain Fantastic"
Realização: Matt Ross
Argumento: Matt Ross
Elenco: Viggo Mortensen, George MacKay, Samantha Isler
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 118 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 15/09/2016

Crítica: Grande e fascinante acontecimento cinematográfico, Matt Ross (mais conhecido pelo seu trabalho como ator em títulos como "American Psycho" ou "O Aviador"), afirma-se como um dos mais promissores cineastas emergentes da atual produção indie norte-americana, ao assinar uma comédia dramática espirituosa, melancólica e deveras tocante (combinação rara, que Ross consegue atingir sem nunca cair em clichés ou banalidades), revelando uma voz distinta num filme que apesar de um título a remeter para o universo dos super-heróis, conta a história de Ben (Viggo Mortensen, absolutamente arrebatador) um pai que vive com os seus seis filhos no meio de uma floresta. Lá, seguem um rigoroso (e, pouco convencional para dizer o mínimo) programa educacional, a englobar exercício físico diário, caça, escalada, serões de leitura e, até rituais de passagem na adolescência (também ignoram o Natal, e trocam prendas no dia de nascimento de Noam Chomsky, o que acaba por originar um dos mais divertidos momentos de toda a fita). Tudo corre bem na vida deste "clã", até que a morte da mãe os força a abandonar o seu "habitat" e, viajar até à cidade para o funeral, ainda que contra a vontade do avô que culpa Ben pela morte da filha. Ross, que também escreve o argumento, evita moralismos (e, ainda bem), nunca julgando as escolhas e filosofias das suas personagens. Ao invés, temos uma fita honesta sobre relações humanas, com um sentido de humor irresistível e um elenco ímpar, onde além do já referido (e, notável por certo) Mortensen, numa das melhores interpretações da sua riquíssima carreira, temos ainda um grupo de excelentes jovens atores (destaque para George MacKay e Samantha Isler) e, umas pequenas mas memoráveis participações de autênticos veteranos da indústria como Frank Langella ou Ann Dowd, perfazendo um dos mais impressionantes elencos em anos recentes. Em conclusão, é bastante provável que "Capitão Fantástico" seja demasiado discreto e introspetivo para ter uma carreira de sucesso nas salas de cinema nacionais, mas isso não é desculpa para perder um filme que se inscreve, desde logo, entre os melhores e mais inventivos do ano.

Texto de Miguel Anjos

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