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Crítica: "O Misterioso Louis Drax", de Alexandre Aja



Título Original: "The 9th Life of Louis Drax"
Realização: Alexandre Aja
Argumento: Max Minghella
Elenco: Jamie DornanSarah GadonAaron PaulAiden Longworth
Género: Mistério, Thriller
Duração: 108 minutos
País: Reino Unido | Canadá | EUA
Ano: 2016
Distribuidor: Cinemundo
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 15/09/2016


Crítica: Alexandre Aja, cineasta gaulês responsável por alguns dos mais bem conseguidos remakes da história da sétima arte (entre os quais, se contam as novas versões de "Terror Nas Montanhas" ou "Piranha"), é um dos mais atípicos autores em atividade nos dias que correm. Por um lado, os seus primeiros filmes pareciam indicar um perito na combinação de baixos orçamentos e elevados níveis de sanguinolência, por outro, recentemente, Aja parece mais interessado em utilizar elementos de horror (o género no qual assenta toda a sua carreira) para contar histórias muito simples e humanas, com uma invulgar dose de humanidade e honestidade. Assim foi com "Cornos", há dois anos atrás e volta a ser com este título deliciosamente indescritível que é "O Misterioso Louis Drax", híbrido de terror, fantasia, drama, comédia e thriller, que segue a personagem titular, um jovem rapaz, que tem acidentes potencialmente mortais todos os anos desde que nasceu e, no dia em que celebra o seu nono aniversário com os pais, tudo indica que vá ser de vez, o acidente para acabar com todos os acidentes, como o próprio o descreve. O problema é que nada nesse seu passado é o que parece… Aja, vai mudando de tom e género a uma velocidade quase alucinante, até uma reta final de partir o coração em que aquilo que pensávamos ser um thriller mais ou menos fantasioso com elementos de cinema noir, se transforma nalgo de muito belo, mas para não estragar as boas surpresas ficamos por aí, a esse respeito. Ainda assim, importa destacar o talento deste realizador francês que uma vez mais demonstrou uma capacidade, no mínimo, pouco habitual para cruzar componentes das mais variadas cinematografias e géneros, para transmitir sentimentos que nos são afinal tão próximos. E, como não mencionar o trabalho dos atores (este é, afinal, um cinema que não desiste deles), de onde se destaca um quarteto que engloba essa pequena revelação que é Aiden Longworth (prodigioso num papel que foge a todos os clichés, normalmente, associados a crianças), Jamie Dornan seguríssimo num registo bem longe daquele que fez dele uma estrela e, dois dos melhores e mais subvalorizados atores modernos, Aaron Paul e Sarah Gadon, ele arrasador como um pai desesperado e ela uma femme fatale digna de um clássico noir.


Texto de Miguel Anjos

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