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Crítica (MOTELX 2016): "The Devil’s Candy", de Sean Byrne


Título Original: "The Devil's Candy"
Realização: Sean Byrne
Argumento: Sean Byrne
Elenco: Ethan Embry, Shiri Appleby, Kiara Glasco
Género: Terror
Duração: 76 minutos

Crítica: Em 2010, fomos apanhados de surpresa por "The Loved Ones", delirante proposta de horror que subvertia por completo um subgénero moribundo (o torture porn, que não produzia filmes que merecessem ser vistos há pelo menos uns três anos, por essa altura). Posto isto, foram necessários seis anos para que voltássemos a ter notícias do australiano Sean Byrne, que reapareceu ontem à noite no MOTELX para encerrar o festival com a sua segunda e ansiosamente aguardada longa-metragem, "The Devil's Candy". Escusado será dizer que as expetativas eram imensas, o que seria claramente um problema para alguém menos talentoso o fator da antecipação poderia funcionar de forma nociva, esse não será o caso de Byrne, que ao construir um glorioso espetáculo de terror, passado num cenário texano evocativo de clássicos como "The Amityville Horror" (1979) e, como não esquecer, uma banda-sonora heavy metal que deixou a Sala Manoel de Oliveira a vibrar. Por outras palavras, Byrne deitou a casa abaixo! Acima de tudo, dir-se-ia, que aquilo que este grande cineasta conseguiu com este seu novo filme, foi pegar numa série de elementos, que nos últimos tempos se tornaram clichés e, juntá-los numa experiência insana e invulgar. Mas, o que é "The Devil's Candy", afinal? Pois bem, é uma história de possessões (também por isso, referimos "The Amityville Horror"), um home invasion movie como nunca vimos um, uma bonita homenagem ao heavy metal e, porventura mais importante, um comovente e visceral história de amor incondicional entre um pai e a sua filha. Byrne, sabe que se as personagens não forem importantes para o espetador, o suspense nunca irá existir e, por isso, faz delas o foco de toda a obra, é tocante ver esta família e as suas dinâmicas (todos os membros são pessoas de carne e osso, bem delineadas cujas atitudes e personalidades nada têm de cliché), pelo que quando na reta final a violência explode, ficamos em pânico com o coração nas mãos, a torcer para que sobrevivam. Uma segunda vez, Byrne desafiou categorização e expectativas e entregou uma fita original, com um estilo próprio que não deixará ninguém indiferente.

Filme Visionado no MOTELX 2016

Texto de Miguel Anjos

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