Avançar para o conteúdo principal
Crítica: "Misconduct - Jogos Perigosos", de Shintaro Shimosawa


Título Original: "Misconduct"
Realização: Shintaro Shimosawa
Argumento: Simon Boyes, Adam Mason
Género: Drama, Thriller
Duração: 106 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 15/09/2016

Crítica: Não deixa de ser, no mínimo, levemente desconcertante descobrir um filme como este "Misconduct - Jogos Perigosos", como sendo alvo de um processo de secundarização que há uns anos seria impensável para um thriller adulto, com um elenco onde se incluem veteranos da "velha guarda" como Al Pacino ou Anthony Hopkins. Desta forma, acabamos por assistir a um novo exemplo da forma como o nosso mercado tem mudado nos últimos tempos, relegando para um canto produções de pequena escala como esta, como se dum "filme de nicho" se tratassem. Posto isto, importa não nos perdermos em considerações comerciais, uma vez que, apesar da óbvia falta de interesse da parte do distribuidor (que, já vem do estúdio norte-americano que pouco ou nada se importou ele, tendo preparado um lançamento quase exclusivamente apontado para DVD e VOD), estamos perante um bom exemplo de um certo cinema eminentemente comercial e adulto, na veia de títulos recentes como "A Firma" ou "Rutura" (também com Hopkins), em que acompanhamos a história de um ambicioso jovem advogado (Josh Duhamel), que ao assumir um processo contra um gigante da indústria farmacêutica, se vê enredado numa teia de atos violentos e muitos enganos. Shintaro Shimosawa, um produtor de sucesso (com títulos como "The Grudge" ou "O Eco", no seu currículo) que aqui se estreia enquanto cineasta, encena com segurança e algum experimentalismo este thriller judicial sofisticado, de estilo classicista, que é elevado por um argumento repleto de engenhosas reviravoltas (da autoria de dois habitues do cinema de terror) e um elenco de primeira água (de onde o já referido Pacino será um destaque óbvio), resultando numa fita extremamente sólida, que não reinventa o género (seria ridículo exigir isso), mas se segue com atenção e interesse.

Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

CRÍTICA - "THE APPRENTICE - A HISTÓRIA DE TRUMP"

"The Apprentice", em Portugal, acompanhado pelo subtítulo "A História de Trump", tornou-se num dos filmes mais mediáticos do ano antes de ser revelado ao público, em maio, no Festival de Cannes, "poiso" habitual do seu autor, o iraniano-sueco-dinamarquês Ali Abbasi. De facto, os tabloides tiveram muito por onde pegar, houve um apoiante de Donald Trump que, inconscientemente, terá sido um dos financiadores de "The Apprentice" (só podemos especular que terá assumido que o filme se tratava de uma hagiografia, de pendor propagandístico), a campanha de boicote que Trump e a sua comitiva lançaram contra o filme, a dificuldade de encontrar um distribuidor no mercado norte-americano (nenhum estúdio quer ter um possível Presidente como inimigo), etc. A polémica vale o que vale (nada), ainda que, inevitavelmente, contribua para providenciar um ar de choque a "The Apprentice", afinal, como exclamam (corretamente) muitos dos materiais promocionais ...

"Flow - À Deriva" ("Straume"), de Gints Zilbalodis

Não devemos ter medo de exaltar aquilo que nos parece "personificar", por assim dizer, um ideal de perfeição. Consequentemente, proclamo-o, sem medos, sem pudores, "Flow - À Deriva", do letão Gints Zilbalodis é um dos melhores filmes do século XXI. Um acontecimento estarrecedor, daqueles que além de anunciar um novo autor, nos providencia a oportunidade rara, raríssima de experienciar "cinema puro". O conceito é simultaneamente simples e complexo. Essencialmente, entramos num mundo que pode ou não ser o nosso, onde encontramos apenas natureza, há resquícios do que pode, eventualmente, ter sido intervenção humana, mas, permanecem esquecidos, abandonados, nalguns casos, até consumidos pela vegetação. Um dia, um gato, solitário por natureza, é confrontado com um horripilante dilúvio e, para sobreviver, necessita de se unir a uma capivara, um lémure-de-cauda-anelada e um cão. Segue-se uma odisseia épica, sem diálogos, onde somos convidados (os dissidentes, cas...

CRÍTICA - "MEMÓRIA"

Michel Franco é um cineasta empático? O termo raramente lhe foi associado, aliás, títulos como "Nova Ordem" ou "Crepúsculo" levaram muitos a acusá-lo de sadismo, apoiando-se permanentemente num niilismo incessante para encenar as mais abjetas barbaridades. Enfim, temos de assumir que quem levanta essas acusações nunca viu, por exemplo, "Chronic", o seu primeiro filme em inglês, onde não era possível fechar os olhos ao humanismo. Em "Memória", encontramo-lo na sua melhor forma, pronto para confundir os seus detratores, com um filme... "fofinho", devastador é certo, mas, "fofinho" na mesma. É o conto de Sylvia (Jessica Chastain), uma assistente social, profundamente traumatizada pelos abusos sexuais que sofreu, primeiro, às mãos do pai e depois, de um ex-namorado, e Saul (Peter Sarsgaard), cuja vida é moldada e, acima de tudo, condicionada por uma doença degenerativa debilitante. É um conceito, no mínimo, complexo, quanto mais n...