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Crítica: "Annabelle 2: A Criação do Mal" ("Annabelle: Creation"), de David F. Sandberg




A boneca Annabelle atormentou milhões de espetadores por todo o mundo (um dos filmes mais rentáveis de 2014, lembremos), após a sua brevíssima aparição no primeiro capítulo da saga The Conjuring, a ponto de gerar um filme só seu, que não foi exatamente elogiado pela crítica (que o encarou mesmo como uma gigantesca desilusão), mas gerou suficientes fundos para garantir uma continuação. Só que, face às reações pouco encorajadoras dessa fita, James Wan, arquiteto deste universo partilhado de pequenos contos de terror, decidiu substituir John R. Leonetti por David F. Sandberg. E, em boa hora o fez, porque o cineasta sueco de Lights Out, continua a evidenciar um imenso talento para a criação de ambientes arrepiantes, habitados por personagens, que não encaixam nos clichés do costume. Nesse sentido, importa encarar Annabelle 2: A Criação do Mal, não só como uma extraordinária continuação de uma franchise impecável, mas sim como um maravilhoso filme de género, ancorado num elenco uniformemente sólido (destaque especial para as duas protagonistas Lulu Wilson e Talitha Bateman, em composições admiráveis) e, num argumento (de Gary Dauberman, veterano destas andanças), que se diverte a subverter as nossas expectativas, tudo isto concretizado por um trabalho de encenação, que revela o completo domínio que Sandberg exerce sobre o seu métier, jogando com luzes e sombras e, sabiamente adotando um ritmo lento, segundo o qual a tensão não para de crescer de cena para cena. Por outras palavras, belíssimo acontecimento de verão, que prova a vitalidade de uma das sagas mais interessantes do panorama contemporâneo e, ainda nos presenteia com um twist daqueles de causar torcicolo.


Realização: David F. Sandberg
Argumento: Gary Dauberman
Género: Terror
Duração: 109 minutos

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