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Crítica: "Que Loucura de Noite!" ("All Nighter"), de Gavin Wiesen



Certos filmes sobrevivem quase única e exclusivamente à custa dos seus elencos. E, Que Loucura de Noite será precisamente um deles. Não, que esta comédia do americano Gavin Wiesen sofra de quaisquer problemas narrativos ou cénicos, pelo contrário, estamos, isso sim, perante um cenário, que obrigatoriamente exige um grupo de atores, capazes de uma devoção completa às constantes situações rocambolescas em que o argumento de Seth W. Owen coloca as personagens. Nela, acompanhamos Martin (Emille Hirsch) e Frank (J.K. Simmons), um aspirante a músico informal e descontraído e, um burguês de classe média, pai da namorada do primeiro, que pouca ou nenhuma admiração nutre por ele. No entanto, passados seis meses, quando a rapariga desaparece misteriosamente de um momento para o outro, sem que ninguém em seu torno saiba um mínimo de detalhes acerca do sucedido, o austero Frank vê-se forçado a recrutar o agora solteiro Martin, para o ajudar a viajar por entre a Los Angeles contemporânea e, encontrar a "desaparecida" (e, temos mesmo direito a uma referência inspiradíssima ao clássico homónimo de John Ford). Uns curtos, porém eficazes 86 minutos, garantem que a narrativa vai avançando implacavelmente, dedicando tempo suficiente à construção dos seus protagonistas, sem nunca se arrastar e, a realização de Wiesen mante-nos investidos, sistematicamente colocando em cena novas personagens e eventos, que asseguram gargalhadas regulares, mas retornando ao início, rigorosamente nada funcionaria, se não fossem os improváveis Hirsch e Simmons, aqui impecáveis, que juntos conseguem os mesmos melhores momentos de toda a fita, na maior parte dos casos simplesmente através de pequenas conversas e reações. Chama-se a isto classe.


Realização: Gavin Wiesen
Argumento: Seth W. Owen
Género: Comédia
Duração: 86 minutos

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