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Crítica: "American Made" ("Barry Seal: Traficante Americano"), de Doug Liman





Doug Liman não é nenhum Ingmar Bergman, mas possui uma filmografia tão consistente, que é necessário nutrir alguma admiração por ele. Afinal, ainda recentemente deparamos com o seu brilhante O Muro, um thriller sufocante sobre os horrores da guerra, possuidor de uma precisão e economia narrativa reminiscentes de Kathryn Bigelow e, esta semana, reencontramo-lo novamente numa produção de estúdio, com uma estrela de primeiríssima grandeza (Tom Cruise) e um orçamento adequadamente elevado (80 milhões de dólares). Todos estes recursos reunidos para retratar a rocambolesca odisseia de Barry Seal (vivido pelo próprio Cruise), um piloto extraordinariamente competente da TWA, que é abordado por um agente da CIA (Domhnall Gleeson), para utilizar os seus talentos em missões mais ou menos ilegais. Começando com fotografias de campos de guerrilheiros na América do Sul, que eventualmente desembocam em trabalhos para Pablo Escobar (Mauricio Mejía), tráfico de armas e, no escândalo Irão-Contra. Sentimos a influência de títulos Argo ou Os Traficantes, na abordagem simultaneamente cómica e amarga, de uma história verídica, que representa mais um capítulo sangrento do envolvimento americano na política interna de outros países (como já acontecia no Muro). Tudo isto, feito com requinte, inteligência e maturidade, graças a um argumento teimosamente adulto (de Gary Spinelli) e um elenco fabuloso, de onde obrigatoriamente temos de destacar uma dupla de atores imensamente carismáticos, Cruise e Gleeson, em belíssimos papeis à sua medida.


Realização: Doug Liman
Argumento: Gary Spinelli
Género: Drama, Comédia, Thriller
Duração: 115 minutos

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