"Um Homem Furioso", de Guy Ritchie
Em 2005, o britânico Guy Ritchie quis reinventar-se. O sucesso de "Um Mal Não Vem Só" e "Snatch - Porcos e Diamantes" tinha levado muitos membros da imprensa a concluir que apenas sabia fazer comédias excêntricas sobre mafiosos, enquanto o insucesso comercial de "Ao Sabor das Ondas" colocou muita pressão sobre os seus ombros. Interessado em mostrar ao mundo uma face mais reflexiva de si mesmo, Ritchie chamou o seu amigo Jason Statham para protagonizar "Revólver", onde abandonava quase completamente o sentido de humor que lhe é característico, para abraçar um tom bem mais sério e até experimental. Infelizmente, as coisas correram francamente mal, a crítica repudiou o filme e os poucos espetadores que o viram também não demonstraram grande entusiasmo.
Tudo acabou por correr de feição a Ritchie, que conseguiu reconciliar-se com a imprensa e público com "RocknRolla - A Quadrilha" poucos anos depois, enquanto aquela faceta mais negra do realizador pareceu cair no esquecimento juntamente com "Revólver" ou, pelo menos, assim tinha sido até ao lançamento de "Um Homem Furioso", remake do francês "Le Convoyeur", onde se reúne com Statham pela primeira vez desde esse fracasso, para contar a história de H, um homem misterioso que trabalha para uma empresa de transporte de dinheiro na zona de Los Angeles e é responsável por movimentar milhões de dólares através da cidade.
No entanto, os seus colegas rapidamente começam a duvidar das suas motivações, devido à sua perícia enquanto atirador, coragem na hora de enfrentar criminosos armados e pelo seu estoicismo constante... Ritchie conta-nos este mistério como quem vai metodicamente constituindo um puzzle, saltitando entre passado e presente e providenciando-nos a oportunidade de testemunhar os mesmos acontecimentos sob perspetivas distintas.
Quem conhecer o cinema de Ritchie, certamente reconhecerá o seu interesse por narrativas menos lineares, sempre prontas a brincar com a passagem do tempo e a mudança de pontos vista, logo, mesmo que nos pareça que nunca o fez tão bem como aqui, nada disso se trata de uma novidade. No entanto, apetece dizer que "Um Homem Furioso" marca um novo capítulo no seu trabalho como encenador de sequências de ação, outrora um apaixonado dos cortes rápidos e movimentos frenéticos, Ritchie assume toda uma nova eloquência, dedicando-se a captar takes longos, que aproximam os combates e tiroteios da complexidade e elegância de um bailado.
Intenso, empolgante de uma ponta à outra e temperado por apontamentos humorísticos irónicos e astutos, "Um Homem Furioso" é um explosivo naco de entretenimento musculado e estilizado.
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