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A mostrar mensagens de julho, 2018
"Linhas de Sangue", de Sérgio Graciano e Manuel Pureza Começou como uma curta-metragem, apresentada no MOTELx, perante uma plateia visivelmente feliz. Chamava-se precisamente "Linhas de Sangue", e era uma comédia sangrenta, que convocava um imenso rol de influências, onde se incluía o cinema de Quentin Tarantino e às comédias satíricas dos irmãos Zucker e Jim Abrahams. O resultado era um curioso e suculento naco de série B, cujos económicos 15 minutos sabiam a pouco. Supostamente, ia começar uma franquia, durante a qual iríamos conhecer novas e estrambólicas personagens, num universo que se pautava mesmo por um sentido de humor grotesco, que chocava sem pedir desculpas, contudo, as novas aventuras nunca chegaram. Isto é, até agora, porque secretamente Sérgio Graciano e Manuel Pureza aparentam ter estado apenas à espera da altura correta, para lançar este verdadeiro tsunami de insanidade sob as cabeças dos espetadores desprevenidos. Longe estão as diabru
"Blindspotting: À Queima-Roupa", de Carlos López Estrada Há um momento absolutamente brutal em “Blindspotting”. Colin (Daveed Diggs) necessita que lhe façam tranças no cabelo, antes de rumar para o trabalho e, para tal, recorre à ajuda da sua ex-namorada (Janina Gavankar). Após terminar o trabalho, a mesma diz-lhe que se as retirasse possivelmente seria encarado de melhor forma pelo mundo em seu redor, e não como o criminoso que é consistentemente acusado de ser, mas, reitera ele “são a minha identidade”. Assim, subtilmente, Carlos López Estrada resume o seu filme. Não é só uma comédia de amigos (embora, também o seja, funcione notoriamente bem nessa capacidade), é um olhar melancólico sobre os preconceitos e pressões sociais, que continuam a castrar pobres almas como os protagonistas. Acontece que Colin foi aprisionado, por causa do seu envolvimento num incidente sanguinolento e, cumprida a sentença, precisa de aguentar os últimos três dias de liberdad
Destaque da Semana: "Blindspotting: À Queima-Roupa" Realização: Carlos López Estrada Argumento: Rafael Casal , Daveed Diggs Elenco: Daveed Diggs , Rafael Casal , Janina Gavankar
"The Equalizer 2: A Vingança", de Antoine Fuqua É sempre francamente positivo encontrar um blockbuster contemporâneo, que sabiamente não confunda a mera acumulação de efeitos visuais, com peripécias narrativas fascinantes e personagens genuinamente cativantes. Nesse sentido, apetece mesmo dizer que este “The Equalizer 2: A Vingança”, deixa um sabor eloquentemente classicista na boca do espetador, não por estarmos perante uma obra-prima moderna (longe disso), mas sim porque Antoine Fuqua é um cineasta de outros tempos, capaz de se apoiar em duas valências que estes filmes têm esquecido: os atores e o argumento. Reencontramos Denzel Washington como Robert McCall, o justiceiro que continua a dedicar o seu quotidiano a proteger os oprimidos, numa continuação que o coloca numa situação dúplice. Por um lado, tenta abandonar a solidão permanente em que vive desde a morte da mulher, ao criar ligações genuínas com duas almas perdidas (um adolescente que tanto pod
"Mamma Mia: Here We Go Again", de Ol Parker O primeiro “Mamma Mia” possuía algum charme, contudo, também era um tanto ou quanto entediante, e continha momentos mais ou menos embaraçosos (nunca esqueceremos, quando Pierce Brosnan literalmente assassinou “S.O.S”). Assim sendo, as expectativas para uma possível continuação, não seriam muitas. No entanto, ainda existem filmes surpreendentes e, felizmente, este é um deles. Assumindo um dispositivo narrativo, a meio caminho entre a sequela e a prequela (como fazia “O Padrinho: Parte 2”, por exemplo), desse modo dividindo os acontecimentos entre o passado de Donna (Meryl Streep no primeiro filme, Lily James neste), e o presente da sua filha Sophie (Amanda Seyfried), que procura homenagear a memória da mãe, ao remodelar e reabrir o hotel que a mesma construiu bastantes anos antes. Os números musicais têm uma energia contagiante, e o elenco entrega-se por completo as mecânicas do feel good movie, mas o que deixa marca é o a
"Prece ao Nascer do Dia", de Jean-Stéphane Sauvaire Aquando do lançamento do estupendo Columbus, mencionávamos a importância do cenário no cinema. Passado um mês, voltamos a essa mesma ideia para elogiar a eloquência da segunda longa-metragem de Jean-Stéphane Sauvaire. Realizador francês, conhecido pela sua habilidade na hora de combinar realismo e estilização (pensemos num hibrido de Nicolas Winding Refn e Mike Leigh), que aqui encena a história verídica de lutador de boxe toxicodependente, oriundo do Reino Unido, que fora aprisionado na Tailândia, num autentico inferno terreno. O resultado é uma experiência hipnotizante, que nunca sente a necessidade de fazer concessões sentimentais ou moralizantes, e ainda nos providencia uma interpretação absolutamente extraordinária de Joe Cole, a assumir-se inteiramente como um dos mais talentosos atores emergentes. Realização:  Jean-Stéphane Sauvaire Argumento:  Jonathan Hirschbein ,  Nick Saltrese Elenco
Destaque da Semana: "Prece ao Nascer do Dia" Realização: Jean-Stéphane Sauvaire Argumento:  Jonathan Hirschbein , Nick Saltrese Elenco:  Joe Cole , Vithaya Pansringarm , Pornchanok Mabklang
"No Coração da Escuridão", de Paul Schrader Paul Schrader escreveu um livro chamado "Transcendental Style in Film: Ozu, Bresson, Dreyer". Nele, homenageava esse trio de autores, pela maneira como nos mostravam algo de transcendental. Dito de outro modo, conseguiam filmar “conceitos”, que pertenciam ao domínio do invisível. No entanto, embora falasse abertamente acerca do seu interesse por esse cinema teológico, digamos assim, Schrader sempre se encarou como alguém incapaz de conceber histórias similares. Como o mesmo tem dito em múltiplas entrevistas, “havia sido corrompido pelo sexo e violência da cinematografia americana”. Mas, completados os seus 70 anos, um sentimento inexplicável e intraduzível aparentava ter-se apoderado do autor de “American Gigolo” e “A Felina” . Tinha chegado a altura de interiorizar, ou melhor corporizar essas suas inspirações, que durante tantos anos ficaram adormecidas. Era o momento de fazer o seu filme transcendental…
Destaque da Semana: "No Coração da Escuridão" Realização: Paul Schrader Argumento: Paul Schrader Elenco: Ethan Hawke , Amanda Seyfried , Cedric Kyles
Crítica: "Artemis: Hotel de Bandidos" Estamos em 2028. Los Angeles assiste aos motins mais sangrentos da sua história, quando os manifestantes enfrentam uma crudelíssima força policial privatizada, de modo a exigir um bem demasiado caro para as massas: água potável. No meio do caos, os irmãos Atkins (Sterling K. Brown e Brian Tyree Henry), executam um ambicioso assalto a emblemático banco local. No entanto, as consequências são quase mortais, e os dois acabam no Artemis, um misto de hotel e hospital, pensado para acolher criminosos que necessitam de tratamento médico, após “problemas de trabalho”. Premissa manifestamente sugestiva, que o estreante Drew Pearce transforma num belíssimo noir contemporâneo, bem na linha do melhor cinema que tem saído na nova geração coreana (nomes como Bong Joon-ho ou Park-Chan Wook assumem-se como referências mais ou menos óbvias), propulsionado por diálogos astutos e viciantes, que o elenco saboreia com notório prazer (Sterling K.
Crítica: "O Meu Amigo Pete" Há um sentimento de permanente melancolia no cinema do britânico Andrew Haigh, contudo, o mais impressionante no seu trabalho não é a omnipresença dessa mágoa dilacerante, mas, sim o quão genuína a mesma acaba por ser. Afinal, falamos de um autor que aparenta mesmo recusar quaisquer maquinações postiças, que pudessem possivelmente servir para manipular as emoções do espetador. Quando vemos um filme seu, mergulhamos também numa realidade diferente da nossa. Em O Meu Amigo Pete , somos imediatamente transportados para o interior norte-americano, onde conhecemos Charley, um rapaz de 15 anos, que parte em busca do seu único familiar (uma tia que vive longe), acompanhado somente por Lean on Pete (o título original do filme), um cavalo de corrida no fim da linha ao qual se afeiçoou, roubado ao dono (Steve Buscemi), que o mandou entregar o animal para ser abatido no México. O pano de fundo é o de uma economia de subsistência, portanto, onde tod
Crítica: "Na Praia de Chesil" Há muitas maneiras de olhar para o cinema. No entanto, mesmo que queiramos encará-lo como uma arte meramente narrativa (como muitos escolhem fazer), seria fútil tentar negar que a função de um cineasta vai além de contar uma boa história. É imperativo utilizar as ferramentas que o meio disponibiliza para criar uma experiencia total que, em ultima instancia, transporta o espetador diretamente para os cenários que contempla. Ora, em Na Praia de Chesil , o encenador teatral tornado realizador Dominic Cooke surpreende ao conseguir fazer precisamente isso, na sua primeira tentativa. Estamos em Inglaterra, no ano de 1962, numa sociedade cheia de constrangimentos e preconceitos, onde se começam já a evidenciar sinais de um choque geracional, que apenas viria a aumentar nos anos que se seguiram, quando dois amantes se reúnem num quarto de hotel, para começar a desfrutar da sua lua de mel. O que se segue, é um mergulho exemplarmente comovente
Destaque da Semana: "Na Praia de Chesil" Realização: Dominic Cooke Argumento: Ian McEwan Elenco: Saiorse Ronan , Billy Howle , Anne-Marie Duff