Avançar para o conteúdo principal
"The Equalizer 2: A Vingança", de Antoine Fuqua


É sempre francamente positivo encontrar um blockbuster contemporâneo, que sabiamente não confunda a mera acumulação de efeitos visuais, com peripécias narrativas fascinantes e personagens genuinamente cativantes. Nesse sentido, apetece mesmo dizer que este “The Equalizer 2: A Vingança”, deixa um sabor eloquentemente classicista na boca do espetador, não por estarmos perante uma obra-prima moderna (longe disso), mas sim porque Antoine Fuqua é um cineasta de outros tempos, capaz de se apoiar em duas valências que estes filmes têm esquecido: os atores e o argumento.


Reencontramos Denzel Washington como Robert McCall, o justiceiro que continua a dedicar o seu quotidiano a proteger os oprimidos, numa continuação que o coloca numa situação dúplice. Por um lado, tenta abandonar a solidão permanente em que vive desde a morte da mulher, ao criar ligações genuínas com duas almas perdidas (um adolescente que tanto pode utilizar os seus talentos artísticos para alcançar um futuro melhor, ou cair nas garras dos gangs locais, e um idoso ainda atormentado pelos horrores do Holocausto). Por outro, quando uma amiga do passado é brutalmente assassinada, o seu código de honra força-o a empregar os seus métodos sanguinolentos para encontrar os culpados.


O resultado, convenhamos, é ligeiramente esquemático, seguindo mais ou menos à risca às convenções do género, no entanto, Fuqua e o argumentista Richard Wenk surpreendem-nos ao dedicar o tempo devido à construção de todas as personagens envolvidas na ação (não apenas o protagonista e o antagonista, mas também os secundários que apenas pontualmente vão surgindo), desse modo, providenciando notória intensidade dramática aos acontecimentos, e preparando um clímax apropriadamente espetacular. E, claro está, Denzel Washington continua uma presença extraordinariamente carismática, ainda que aqui seja rivalizado por uma estrela em ascensão: Ashton Sanders.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma
"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada  god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma
"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)