Como convocar (quiçá, "evocar" fosse um termo mais adequado, dada a sua conotação com o reino do espiritismo) Cesária Évora? Afinal, "A Diva dos Pés Descalços" encerra em si uma importância simbólica (cultural, social e, consequentemente, política) que importa sublinhar, preservar e imortalizar. Felizmente, Ana Sofia Fonseca , oriunda do meio jornalístico, entendeu isso e escolheu conceber um documentário que percebe que, para contar a história de Cesária, é inevitável cruzar o pessoal e o político, pintando o retrato de alguém que, inadvertidamente, se ergueu (ou foi erguida) como a representante de um povo, historicamente, desprovido de uma voz. Em "Cesária Évora" , assistimos, portanto, a um trabalho modelar de conjugação de imagens de arquivo e entrevistas, no qual, para lá do talento e genuinidade da cantora cabo-verdiana, ficam também vincados a generosidade, humildade extrema e espírito secamente pragmático que a caracterizavam. O resultado é um