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A mostrar mensagens de novembro, 2022

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "FUTURA, O QUE ESTÁ POR VIR"

Em meados dos anos 60,  Pier Paolo Pasolini  embarcou numa viagem por Itália fora para filmar um inquérito aos seus compatriotas, especialmente, aos das classes populares e rurais, sobre uma variedade de temas, para uma espécie de fresco sociológico. O autor de  "O Evangelho Segundo São Mateus"  e  "Decameron"  não foi o único cineasta transalpino a ter uma ideia desse tipo à época, contudo, o filme que resultou desse trabalho,  "Comícios de Amor" , é hoje o mais famoso. No princípio de 2020,  Pietro Marcello  ( "Martin Eden" ),  Francesco Munzi  ( "Anime Nere" ),  Alice Rohrwacher  ( "Feliz como Lázaro" ) decidiram dar  início   a um empreendimento similar:  "Futura, O Que Está Por Vir" , um documentário em que trio atravessa Itália, do continente para as ilhas, da cidade para o campo, entrevistando adolescentes  italianos, oriundos de diversas classes e contextos sociais, elaboradas na sua maioria em pleno período

CRÍTICA - "CRÓNICAS DE VESPER"

Num futuro não muito distante, geneticistas de todo o mundo juntaram-se para encontrar uma forma de contornar as alterações climáticas gravíssimas que ameaçavam tornar inviável a vida na Terra. No entanto, quando diversos vírus e organismos geneticamente modificados escaparam para o meio ambiente, desequilibraram ainda mais os ecossistemas terrestres. Nesse quadro dantesco, a "civilização" adaptou-se como pôde, os habitantes abastados criaram cidades isoladas (as chamadas "cidadelas"), enquanto os mais desfavorecidos foram abandonados em condições atrozes, rodeados de elementos naturais transmutados (árvores que respiram, plantas carnívoras, paredes cobertas de dentes, etc.). Entre os proscritos, encontramos Vesper ( Raffiella Chapman ), de 13 anos, que (sobre)vive numa casa decadente com o pai acamado ( Richard Brake ), procurando uma maneira de conseguir aceder às inalcançáveis cidadelas... A meio caminho entre "Aniquilação" e "Dune" , Kristin

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "GOLIAS"

Onde anda o cinema político? Escusado será dizer que, qualquer tentativa de resposta terá, forçosamente, de passar por uma outra pergunta, nomeadamente, o que entendemos nós por "cinema político"? A resposta é simples, filmes capazes de abordarem os temas que marcam o quotidiano sociopolítico, com inteligência e maturidade suficientes para não reduzirem as causas e temas que nos dividem a meros soundbites . Acontece que, o realizador francófono Frédéric Tellier , que ficámos a conhecer por intermédio do melodrama "Vida por Vida" , reconhece que nunca pode ser a gravidade dos assuntos evocados a garantir a qualidade de um filme, mas sim, o tratamento dos mesmos. Portanto, em "Golias" , a sua terceira longa-metragem, foca-se em construir uma narrativa clássica (a referência à mitologia grega no título, denuncia, imediatamente, essa abordagem), que assume múltiplas perspetivas, para nos providenciar um retrato, necessariamente, complexo de uma realidade em tu

DESTAQUE DA SEMANA:

OUTRAS ESTREIAS: (EXCLUSIVO CINEMA FERNANDO LOPES)

CRÍTICA - "DIÁRIO DE UM ROMANCE PASSAGEIRO"

"Diário de um Romance Passageiro" , o título da 12ª longa-metragem de Emmanuel Mouret , é um inconfundível prenúncio de tragédia. Ainda antes de entrarmos na sala de cinema, onde conheceremos as personagens de Vincent Macaigne e Sandrine Kiberlain , já sabemos que o seu caso tem fim à vista. Essa informação é tudo menos acessória, um vez que, vem acentuar a melancolia de um conto que, seguindo os códigos pré-estabelecidos do cinema de Mouret , procura aceder aos sentimentos por intermédio da intelectualização. Como sempre, encontramo-nos perante "um filme falado", citando o título de um dos filmes mais reconhecíveis de Manoel de Oliveira , que se debruça sobre os sentimentos na medida em que eles podem ser discutidos, esmiuçados, até, autopsiados. É isso que fazem Charlotte ( Kiberlain , estonteante na composição de uma libertina, que, secretamente, procura alguém que a leve a questionar os fundamentos que sustentam as suas crenças) e Simon ( Macaigne , sempre enca

CRÍTICA - "CONFESSA, FLETCH"

Em 1974, o romancista Gregory McDonald assinou "Fletch", um policial de recorte clássico, que nos introduzia a Irwin M. Fletcher, um ex-jornalista convertido em detetive privado. Com o passar do tempo, Fletcher (ou Fletch) tornou-se num pequeno ícone do género, protagonizando múltiplas sequelas. Aliás, Hollywood não ignorou o fenómeno, dando mesmo luz verde a duas adaptações da prosa de McDonald, com Chevy Chase no papel titular. No entanto, Fletch pareceu cair no esquecimento com o passar do tempo, até que Jon Hamm , conhecido, principalmente, por ter dado corpo a Don Draper em "Mad Men" , decidiu utilizar o crédito que esse triunfo televisivo lhe providenciou para produzir uma nova aventura para a personagem. O resultado desse labor é "Confessa, Fletch" , com realização a cargo de Gregg Mottola , autor de uma das melhores comédias norte-americanas da era moderna, "Superbaldas" . Em "Confessa, Fletch" , o homónimo herói relutante ( Ha

DESTAQUE DA SEMANA:

OUTRAS ESTREIAS: (EXCLUSIVO CINEMAS NOS)

CRÍTICA - "CÉSARIA ÉVORA"

Como convocar (quiçá, "evocar" fosse um termo mais adequado, dada a sua conotação com o reino do espiritismo) Cesária Évora? Afinal, "A Diva dos Pés Descalços" encerra em si uma importância simbólica (cultural, social e, consequentemente, política) que importa sublinhar, preservar e imortalizar. Felizmente,  Ana Sofia Fonseca , oriunda do meio jornalístico, entendeu isso e escolheu conceber um documentário que percebe que, para contar a história de Cesária, é inevitável cruzar o pessoal e o político, pintando o retrato de alguém que, inadvertidamente, se ergueu (ou foi erguida) como a representante de um povo, historicamente, desprovido de uma voz. Em  "Cesária Évora" , assistimos, portanto, a um trabalho modelar de conjugação de imagens de arquivo e entrevistas, no qual, para lá do talento e genuinidade  da cantora cabo-verdiana, ficam também vincados a generosidade, humildade extrema e espírito secamente pragmático que a caracterizavam. O resultado é um

CRÍTICA - "PETER VON KANT"

François Ozon continua fiel à sua ambição de assinar uma longa-metragem por ano... e, ainda bem, para nós. Em "Peter Von Kant" , encontramo-lo a trabalhar sob "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant" , de Rainer Werner Fassbinder , baseado numa peça confessional da autoria do próprio. Aí, encontrávamos Margit Carstensen a habitar a pele da personagem titular, uma criadora de moda a viver as convulsões de uma teia de paixões desencontradas em que todas as personagens são mulheres... Ozon  transforma "Petra" em "Peter", no entanto, o que lhe interessa não é encenar uma espécie de versão "masculina" do drama de "As Lágrimas Amargas" , mas sim, propor um intrincado jogo de espelhos, revisitando a filmografia de Fassbinder e, consequentemente, a sua pessoa, com tudo aquilo que isso implica. Estamos em Colónia, na Alemanha, em 1972, portanto, no ano em que o filme de Fassbinder foi lançado nas salas de cinema mundiais. Peter ( De