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A mostrar mensagens de fevereiro, 2023

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "ICE MERCHANTS"

Quando  Riz Ahmed  e  Allison Williams  anunciaram os nomeados aos Óscares referentes à produção de 2022,  "Ice Merchants"  entrou automaticamente para a história como a primeira produção portuguesa a conseguir uma nomeação para os prémios da Academia de Artes e Ciências de Hollywood. No entanto, o assombroso filme de João Gonzalez merece mais, muito mais, do que ser "arrumado" na gaveta das curiosidades estatísticas. Sim, é sempre bom saber que os méritos do nosso cinema são reconhecidos no estrangeiro, mas, também é preciso ir às salas e experienciar cada obra na primeira pessoa, entendendo e celebrando as suas singularidades. A história de um pai e filho, mercadores de gelo, que vivem numa casa no pico ingreme de uma montanha, é, em tudo e por tudo, tremendamente simples, contudo, a execução acarreta qualquer coisa de transcendente, imbuindo a odisseia desse duo de uma carga fantasmagórica que comove (e muito), pela maneira como expõe a intimidade daquelas perso

CRÍTICA - "STARS AT NOON - PAIXÃO MISTERIOSA"

Uma semana depois de  "Com Amor e Com Raiva" , reencontramos  Claire Denis  nas nossas salas de cinema.  "Stars at Noon" , baseado no romance homónimo de  Denis Johnson , é a sua segunda longa-metragem em língua inglesa, no entanto, desenganem-se os que assumirem que a proximidade de Hollywood aligeirou o toque de  Denis , levando-a a assinar algo mais "acessível"... De facto, à semelhança do que ocorria em  "High Life" , a presença de atores reconhecíveis do grande público, devidamente acompanhada por elementos provenientes do cinema de género (aí, o conceito enraizava-se na tradição da ficção-científica, aqui percorremos os caminhos labirínticos das narrativas de espionagem), apenas reitera a universalidade dos temas explorados no seu cinema. Trish ( Margaret Qualley ), uma (autoproclamada) correspondente norte-americana na Nicarágua, tem que voltar aos EUA. No entanto, uma confluência de impedimentos políticos, sociais e financeiros, impedem-n

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OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "COM AMOR E RAIVA"

De 1988 até 2022,  Claire Denis  acumulou um alinhamento de fiéis colaboradores na escrita, imagem, montagem, composição musical e, mais notoriamente, na representação. Com elas criou e manteve em ininterrupta reinvenção um cinema subversivo, destemido, profundamente original, formado por rostos e corpos combativos. No ano passado, assinou duas longas-metragens,  "Com Amor e Com Raiva"  e  "Stars at Noon - Paixão Misteriosa" , que agora chegam às nossas salas, depois de terem percorrido os mais ilustres festivais internacionais. O primeiro é  "Com Amor e Com Raiva" , onde acompanhamos Sara ( Juliette Binoche , que trabalhou com  Denis  em  "O Meu Belo Sol Interior" ) e Jean ( Vincent Lindon , protagonista de um dos melhores e menos conhecidos títulos da cineasta,  "Les Salauds" , nunca estreado no circuito comercial português), acabados de regressar de umas férias na praia. Ela é uma locutora de rádio, ele saiu recentemente da prisão e

CRÍTICA - "TÁR"

Quem é  Todd Field ? É legítimo perguntar, uma vez que, a sua prolongada ausência, pode ter levado a que alguns se esquecessem do seu nome... Acontece que, o realizador de  "Vidas Privadas"  e  "Pecados Íntimos" , não passou os últimos 16 anos quieto, tendo trabalhado com  Joan Didion ,  Ridley Scott ,  Keanu Reeves ,  Leonardo DiCaprio ,  Martin Scorsese  e, principalmente,  Daniel Craig , com quem terá passado muitos, muitos anos a desenvolver uma adaptação de  "Pureza" , de  Jonathan Franzen , para a Showtime. Nenhum desses projetos saiu do papel, no entanto,  Field  lá conseguiu quebrar o longuíssimo hiato em que se encontrava com aquele que será, porventura, o seu título mais ambicioso à data,  "TÁR" , um argumento original (em  "Vidas Privadas"  e  "Pecados Íntimos" , adaptava  Andre Dubus  e  Tom Perrotta , respetivamente), que procura dialogar com o nosso "aqui e agora". Tár é o apelido de Lydia ( Cate Blanch

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "OS ESPÍRITOS DE INISHERIN"

"Três Cartazes à Beira da Estrada"  (ou  "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" , no original) colocou o nome de  Martin McDonagh  na boca de muita gente, no entanto, o sucesso dessa comédia amarga não representou o primeiro triunfo do irlandês, proveniente do teatro (algumas das suas peças tiveram mesmo encenação portuguesa, como "A Rainha da Beleza de Leenane" ou "O Homem Almofada"), que já tinha assinado dois filmes de culto,  "Em Bruges"  e  "Sete Psicopatas" . Em  "Os Espíritos de Inisherin" ,  McDonagh  reconvoca o duo composto por  Colin Farrell  e  Brendan Gleeson , protagonistas de  "Em Bruges"  ( Farrell  também liderou o elenco de  "Sete Psicopatas" , onde não constava o nome de  Gleeson ), para encenar um peculiaríssimo filme, que reutiliza todos os elementos que caracterizam o trabalho de  McDonagh  (a sombra da violência, as personagens assertivas e eloquentes e, pois claro, os

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OUTRAS ESTREIAS: (EXCLUSIVO MEDEIA FILMES)

CRÍTICA - "AFTERSUN"

Primeira longa-metragem de  Charlotte Wells  (precederam-se-lhe as curtas  "Tuesday" ,  "Laps"  e  "Blue Christmas" ),  "Aftersun"  tem desencadeado muito entusiasmo desde a sua passagem pelo Festival de Cannes (inexplicavelmente, passou ao lado da Competição Oficial, tendo sido "circunscrito" à Semana da Crítica), conseguindo mesmo ultrapassar as limitações comerciais inerentes à sua condição de pequena produção independente, desenvolvida muito longe dos holofotes de Hollywood. Porquê? Pois bem, resumindo de forma necessariamente simplista, porque  "Aftersun"  é uma proeza rara, raríssima, uma ficção de pendor autobiográfico que nos atira para um turbilhão (não linear) de acontecimentos que se entranham na nossa epiderme, na nossa alma, como se se tratassem de memórias só nossas. Durante o visionamento, pensamos em  Claire Denis  ( "Beau Travail" , em particular, havendo mesmo um plano que remete para uma das imagen

CRÍTICA - "OPERAÇÃO FORTUNE: MISSÃO MORTÍFERA"

Quando  Guy Ritchie  confirmou que iria dirigir o  remake  de  "Aladdin" , muitos especularam sobre a possível dissolução da carreira de um dos poucos autores populares que ainda tínhamos. Afinal,  Ritchie  vinha de um outro blockbuster destrambelhado,  "Rei Artur: A Lenda da Espada" , que havia representado um colossal fracasso comercial e criativo. O britânico parecia mesmo ter abandonado as suas comédias frenéticas e brincalhonas, para se tornar num mero gestor de efeitos visuais... Felizmente,  "Aladdin" , por sinal, um sucesso de bilheteira estrondoso, correspondeu mesmo ao final desse período desinspirado, ao qual se seguiram dois dos melhores títulos da sua carreira,  "The Gentleman: Senhores do Crime"  e  "Um Homem Furioso" . Agora, reencontramo-lo em  "Operação Fortune: Missão Mortífera" , uma espécie de cruzamento entre os James Bond da era  Roger Moore , com a sensibilidade de  Ritchie  (do humor ousado às sequência