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A mostrar mensagens de setembro, 2018
Crítica: "Agora Estamos Sozinhos", de Reed Morano A humanidade permanece fascinada com a possibilidade da sua própria aniquilação, e a melhor maneira de o comprovar, será olhar para a proliferação de contos apocalípticos. Aliás, poderíamos mesmo argumentar, que esses cenários se tornaram tão comuns, que se torna necessário questionar se ainda existem novas e excitantes variações sobre eles, à espera de serem descobertas? Pois bem, o melancólico “Agora Estamos Sozinhos”, de Reed Morano, aí está para evidenciar que continuam mesmo a haver caminhos bastante curiosos por percorrer. Nele se conta a história de Del (Peter Dinklage), um bibliotecário, que aparenta sempre ter coabitado com um sentimento de constante solidão, que pensava ser o único sobrevivente de um enigmático evento, que conduziu os restantes humanos a falecer subitamente. No entanto, o seu quotidiano austero, vai ser interrompido pelo surgimento de uma adolescente (Elle Fanning), cuja proveniência e ide
Crítica: "Mandy", de Panos Cosmatos O mundo é cruel. Como tal, Red (Nicolas Cage) e Mandy (Andrea Riseborough) escolheram escapar às suas garras ímpias, e encontrar refúgio nos recantos mais bucólicos dos EUA, mais precisamente, nas profundezas de uma floresta, situada numa área apelidada de The Shadow Mountains, onde ele trabalha como lenhador, e ela desempenha funções de balconista, numa estação de serviço permanentemente deserta. Acompanhados apenas pelo ruído dos ( já lendários ) anúncios publicitários, e pelos livros de fantasia que compõem a biblioteca dela, os dois construíram um paraíso apenas seu, que o público vai experienciando como um delírio onírico, lírico e vagamente psicotrópico. No entanto, esse Éden terreno é corrompido, quando Jeremiah Sand (Linus Roache), um cantor de música folk fracassado (editou apenas um álbum), reconvertido em pretenso messias, e os seus seguidores (um bando de saloios, e um trio de motoqueiros demoníacos), assassin
Destaque da Semana: "Mandy", de Panos Cosmatos Realização: Panos Cosmatos Argumento:  Panos Cosmatos ,  Aaron Stewart-Ahn Elenco: Nicolas Cage , Andrea Riseborough , Linus Roache
"Zoe", de Drake Doremus Quem conhecer o cinema de Drake Doremus, certamente reconhecerá nele, um obstinado representante de uma certa tradição melo dramática, que encontra as suas raízes simbólicas em autores como Douglas Sirk ou David Lean. Dito de outro modo, as suas longas-metragens procuram questionar os enigmas do ser humano, por via de pequenos contos românticos, eternamente assombrados por uma melancolia que lhe é muito particular. O mesmo volta a verificar-se em “Zoe”, subtil variação em torno das matrizes mais clássicas da ficção científica, que consegue mesmo reconfirmar o nome do realizador californiano, como um eloquente retratista das mais intimas convulsões amorosas, e relançar uma antiga questão de ordem filosófica: poderão os “produtos” da ciência sobrepor-se aos dos seus criadores humanos? No centro dos acontecimentos está um profissional no campo da Inteligência Artificial (Ewan McGregor), que encara o amor enquanto algo impossível. Para s
"Um Pequeno Favor", de Paul Feig Habituámo-nos a encarar Paul Feig unicamente como um encenador de simpáticas comédias em tom feminino. De “A Melhor Despedida de Solteira” a “Caça-Fantasmas”, passando por “Armadas e Perigosas” e “Spy”, a sua missão aparentava mesmo ser a de aniquilar o lugar comum, que definia o género como um território exclusivamente masculino. Os resultados sempre se pautaram por um certo nível de qualidade, e esse é mesmo um estupendo quarteto de deveras suculentos "nacos" de entretenimento escapista, mas, nenhum deles ia muito além disso. Ora, também, por esse motivo, é tão surpreendente vê-lo aos comandos de um exercício tão requintado e perverso como “Um Pequeno Favor”, crónica social, centrada nas infinitas ambiguidades do fator humano, que tem tanto de thriller psicológico como de desconstrução satírica. Tudo se passa no interior do ecossistema parental de uma pequena vila. Stephanie Smothers (Anna Kendrick) é uma jovem e
Destaque da Semana: "Um Pequeno Favor", de Paul Feig Realização: Paul Feig Argumento: Jessica Sharzer Elenco: Anna Kendrick , Blake Lively , Henry Golding
"O Predador", de Shane Black “Predador” envelheceu lindamente. Passaram-se 38 anos, e permanecemos impressionados com ele. Era um cruzamento brilhante entre “Apocalypse Now” e “Alien”, evocando memórias da guerra do Vietname, e adicionando-lhes elementos de uma certa aventura puramente primitiva. Talvez, por isso, a FOX tenha demonstrado tanto nervosismo, na hora de encomendar continuações. No entanto, “O Predador” nunca seria uma sequela como outra qualquer. Desta vez, Shane Black, um dos membros do elenco desse primeiro tomo, assume a realização e o argumento, no processo, encerrando um longo círculo criativo, com resultados francamente carismáticos, e não utilizamos essa expressão por acaso. Afinal, “O Predador” padece de maleitas óbvias, a começar por um argumento que quer abarcar demasiados elementos narrativos (há intrigas secundárias sacrificáveis), contudo, supera-as a todas quase única e exclusivamente pela qualidade das suas sanguinolentas sequências de
"American Animals: O Assalto", de Bart Layton Em 2004, um quarteto de estudantes universitários levou a cabo um plano ousado, para roubar a biblioteca de Transylvania, no Kentucky, onde se encontrava uma impressionante coleção de livros raros, entre os quais se contavam edições originais de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, ou “The Birds of America”, de John James Audubon. Os resultados não foram mesmo os melhores, no entanto, isso é pouco importante, porque o interesse do realizador Bart Layton não está no crime, mas sim, nos sentimentos que o motivaram. Para tal, o britânico que é um veterano do documentário (trabalhou em incontáveis produções televisivas do género, e assinou o inquietante “The Imposter” , que seguia um burlão de 16 anos, que convencia uma família texana a acolhê-lo, sob o pretexto de se tratar do seu filho há muito desaparecido ), foi falar com os verdadeiros “American Animals”, e sabiamente integrou os seus depoimentos em
Destaque da Semana: "American Animals: O Assalto", de Bart Layton Realização: Bart Layton Argumento: Bart Layton Elenco: Evan Peters , Barry Keoghan , Blake Jenner , Jared Abrahamson
"Mulher Que Segue à Frente", de Susanna White O western morreu de causas naturais, e ninguém o consegue ressuscitar. Porquê? Porque, a simplicidade reconfortante da aventura mitológica dos bons contra os maus, se evidencia como um conceito francamente ultrapassado. Assim, qualquer realizador ou argumentista, que ambicione retornar ao velho oeste, necessita de mergulhar numa história de violência dantesca, eternamente assombrada pelos fantasmas do colonialismo e da xenofobia. Posto isto, qualquer cinéfilo minimamente atento, terá notado que nos últimos 50 anos, o género não viu outra coisa senão contos morais desencantados, que assumem mesmo esse dilema moral como o seu centro. “Mulher Que Segue à Frente” , a terceira longa-metragem da cineasta britânica Susanna White , constitui a mais recente entrada nesses cânones. Trata-se de uma encenação cinematográfica da história verídica da americana Catherine Weldon ( Jessica Chastain ). Uma pintora, que rumou pa
"BlacKkKlansman: O Infiltrado", de Spike Lee Autor de títulos intemporais como “Não Dês Bronca” , “Passadores” ou “Malcolm X” , Spike Lee permanece interessado num cinema de imediatas ressonâncias sociais e políticas, quase sempre centrado nas convulsões da história dos afro-americanos, no interior dos Estados Unidos. Por vezes, através de contos delicadamente realistas sobre o quotidiano muito específico de personagens fictícias (exemplifiquemos com “Os Bons Amantes” ou "A Febre da Selva” ), outras, com extraordinárias histórias verídicas, que confrontam o público com memórias essenciais dos conflitos raciais na América, como volta a acontecer no admirável “BlacKkKlansman: O Infiltrado” . Tudo começa no domínio do burlesco, com uma abertura que revela de imediato um dos maiores prazeres do filme: reavaliar a representação das muitas reivindicações sociais, e até conflitos bélicos, associados à luta da comunidade negra por igualdade, na cinematogra
Destaque da Semana: "BlacKkKlansman: O Infiltrado", de Spike Lee Realização: Spike Lee Argumento: Charlie Wachtel , David Rabinowitz , Kevin Willmott , Spike Lee Elenco: John David Washington , Adam Driver , Laura Harrier , Topher Grace
"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)
"Alpha", de Albert Hughes Estará a valorização industrial e mediática dos efeitos visuais está a matar a arte da narrativa? Enfim, o retumbante sucesso financeiro de títulos redundantes e entediantes como “Mundo Jurássico: Reino Caído” ou “Homem-Formiga e a Vespa” , parece mesmo evidenciar a possível concretização desse triste pensamento. No entanto, importa evitar a praga das generalizações, e reconhecer que ainda existem eloquentes contadores de histórias no interior dos estúdios americanos. Genuínos artesãos, com inteligência suficiente para entender que existem diferenças fundamentais entre personagens de carne e osso e clichés ambulantes, que aparentam existir somente para fugir de explosões digitais.  Exemplo modelar disso é “Alpha” . Quinta longa-metragem de Albert Hughes enquanto cineasta, e primeira que não assina a meias com o irmão Allen (os filmes anteriores dupla, surgiam sempre como sendo da autoria dos The Hughes Brothers), contudo, mant