Crítica: "Agora Estamos Sozinhos", de Reed Morano
A humanidade permanece fascinada com a possibilidade da sua própria aniquilação, e a melhor maneira de o comprovar, será olhar para a proliferação de contos apocalípticos. Aliás, poderíamos mesmo argumentar, que esses cenários se tornaram tão comuns, que se torna necessário questionar se ainda existem novas e excitantes variações sobre eles, à espera de serem descobertas? Pois bem, o melancólico “Agora Estamos Sozinhos”, de Reed Morano, aí está para evidenciar que continuam mesmo a haver caminhos bastante curiosos por percorrer. Nele se conta a história de Del (Peter Dinklage), um bibliotecário, que aparenta sempre ter coabitado com um sentimento de constante solidão, que pensava ser o único sobrevivente de um enigmático evento, que conduziu os restantes humanos a falecer subitamente. No entanto, o seu quotidiano austero, vai ser interrompido pelo surgimento de uma adolescente (Elle Fanning), cuja proveniência e identidade constituem verdadeiros mistérios para Del.
Ora, não adiantaremos mais detalhes acerca das nuances do que vai acontecendo à dupla, visto que um dos aspetos mais prazerosos de “Agora Estamos Sozinhos” é mesmo o de o descobrir. Dito de outro modo, Reed Morano procurou fazer um filme que não encaixasse em nenhuma das gavetas, onde o pudéssemos encafuar, e os resultados correspondem a um contundente objeto de cinema, a oscilar entre o melodrama e o thriller psicológico (se quiséssemos ser polémicos, diríamos que os primeiros 30 minutos, possuem um comovente naturalismo, que só encontrará paralelos nos exaustivos documentários de Frederick Wiseman), para culminar numa reta final indescritivelmente bela, capaz de relançar uma velha questão de ordem filosófica. A saber, quem somos, e como somos, quando aquilo que define a nossa identidade é colocado em causa? “Agora Estamos Sozinhos”, honra lhe seja feita, nunca evidencia qualquer tipo de interesse em oferecer-nos respostas fáceis, ou explicações simplistas, e também, por isso, o amamos tanto. Na sua infinita complexidade, a película de Morano só nos quer mesmo fazer companhia enquanto refletimos.
Realização: Reed Morano
Argumento: Mike Makowsky
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