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Crítica: "O Mistério de Silver Lake" Importa contrariar os discursos maniqueístas que insistem em opor a forma ao conteúdo. Porquê? Pois bem, porque a forma resume-se ao primeiro dos conteúdos. Isto é, a construção de uma narrativa, encontra mesmo as suas raízes vitais na visão do mundo que nela se integra. Contudo, apenas uns poucos autores têm esse dom, de nos conseguir fazer sentir que o modo como contam as suas histórias, já é intrinsecamente parte das mesmas, e o americano David Robert Mitchell é um deles. Afinal, será necessário recordar a maneira como convocou a ambiência melancólica e perturbante do cinema de terror americano dos anos 80 (encontrando em John Carpenter uma referência fundamental), para acompanhar as duras convulsões do crescimento em “Vai Seguir-te” ? Em “O Mistério de Silver Lake” , encontramo-lo a trabalhar certos modelos de surrealismo que tendemos a associar a autores como David Lynch ou Jim Hosking , para encenar as deambulações m
Destaque da Semana: "O Mistério de Silver Lake" Realização: David Robert Mitchell Argumento: David Robert Mitchell Elenco: Andrew Garfield , Riley Keough , Topher Grace
Crítica: "Ou Nadas ou Afundas" Estávamos em 1997, quando as salas de cinema internacionais foram invadidas pelo britânico “The Full Monty” ( “Ou Tudo ou Nada” ), uma comédia com tons dramáticos sobre um sexteto de empregados da indústria metalúrgica de Sheffield, na Inglaterra, que decide organizar um show de striptease para as mulheres da região, depois de serem alvo de um inesperado despedimento coletivo. O filme tornou num invejável sucesso financeiro (totalizou 258 milhões de dólares, num orçamento de apenas 3) e conseguiu mesmo chegar aos Óscares. Porquê? Pois bem, porque ao abordar temáticas como a depressão, a falta de autoestima e a procura por um novo “sentido de vida”, com candura e humor, o mundo encontrou naquela simpática produção independente, um gentil espelho da sua vida quotidiana. Importa começar por “The Full Monty” para chegar a “Ou Nadas ou Afundas” . Segunda longa-metragem do ator Gilles Lellouche enquanto realizador (a primeira nunca se
Destaque da Semana: "Bumblebee" Realização: Travis Knight Argumento: Christina Hodson Elenco: Hailee Seinfeld , John Cena , Jorge Lendeborg Jr. 
Destaque da Semana: "Colette", de Wash Westmoreland Realização: Wash Westmoreland Argumento: Richard Glatzer , Wash Westmoreland Elenco: Keira Knightley , Dominic West , Denise Gough
"Silvio e os Outros, de Paolo Sorrentino Apenas os italianos conseguiram experienciar “Loro” como Paolo Sorrentino o idealizou. Isto é, dividido em dois volumes complementares, com uma duração conjunta de 204 minutos. Os restantes necessitarão de se a ver com este compacto de 145, pensado para facilitar a vida aos distribuidores internacionais, demasiado centrados em promover os blockbusters da consoada, para providenciar o acompanhamento necessário a tão fascinante empreendimento. No entanto, desenganem-se aqueles que pensam que as exigências do mercado arruinaram o trabalho do autor de “A Juventude” (2015), pelo contrário, “Silvio e os Outros” até acaba mesmo por se revelar como a derradeira confirmação do seu talento, proclamando-o definitivamente como um dos mais ilustres encenadores contemporâneos. Parece que mesmo quando são comprometidos, os seus filmes continuam a possuir um brilhantismo que nunca se dilui. Posto isto, importa enquadrar corretamente este seu r
Destaque da Semana: "Silvio e os Outros", de Paolo Sorrentino Realização: Paolo Sorrentino Argumento: Paolo Sorrentino , Umberto Contarello Elenco: Toni Servillo , Elena Sofia Ricci , Riccardo Scarmacio ,  Kasia Smutniak
"Beautiful Boy", de Felix Van Groeningen Como filmar a toxicodependência? Pois bem, se quisermos aceitar as respostas implícitas no filme “Beautiful Boy” , de Felix Van Groeningen , diremos que importa manter um humanismo empático e sereno, e nunca ceder à tentação nefasta de tornar as personagens em estereótipos, cujos pensamentos e ações, possam ser utilizados para tirar dividendos melodramáticos postiços. Porventura, esse pequeno conjunto de normas parecerá óbvio, no entanto, poucos cineastas têm a competência necessária para as executar. Como tal, “Beautiful Boy” quase assume contornos de acontecimento. Porquê? Acontece que, Van Groeningen conseguiu mesmo trabalhar um tema difícil, com um novo olhar, onde nem cabem sentimentalismos, nem julgamentos morais.  Tudo começa na evocação das memórias de dois homens, Nic e David Sheff (personificados por Timothée Chalamet e Steve Carell , respetivamente). O primeiro, um jovem dependente das metanfetaminas, qu
Destaque da Semana: "Beautiful Boy", de Felix Van Groeningen Realização: Felix Van Groeningen Argumento: Luke Davies , Felix Van Groeningen Elenco: Steve Carell , Timothée Chalamet , Maura Tierney , Amy Ryan
"Suspiria", de Luca Guadagnino Aquando da passagem de “Suspiria” (2018) pelo Festival de Veneza, Luca Guadagnino autodescreveu-se como “a stalker of master filmmakers”, e aproveitou a ocasião para partilhar um caricato episódio da sua adolescência, que comprovaria esse mesmo título. Quando tinha apenas 14 anos, viu “Suspiria” (1977) em Palermo, e abandonou a projeção em estado de êxtase. Nos dias que se seguiram, falou incessantemente do filme em causa a todas as pessoas com quem se cruzava, até que um conhecido lhe segredou que o seu autor, Dario Argento , costumava almoçar num restaurante relativamente próximo. O resultado? Pois bem, Guadagnino , nem sequer dedicou uns meros segundos a pensar acerca do assunto, preferindo limitar-se a correr em direção ao estabelecimento, e encostar a sua face ao vidro, para contemplar o seu ídolo enquanto comia. Porventura, parecerá anedótico (convenhamos, tem a sua piada), no entanto, a génese do pensamento do italiano com
Destaque da Semana: "Suspiria", de Luca Guadagnino Realização: Luca Guadagnino Argumento: David Kajganich Elenco: Dakota Johnson , Tilda Swinton , Mia Goth ,  Chloë Grace Moretz
Crítica "Viúvas", de Steve McQueen Quem conhecer o trabalho de Steve McQueen (autor de títulos notáveis como "Fome" ou "Vergonha" ), certamente, reconhecerá nele um obstinado representante de um certo cinema político, que procura expor as convulsões e contradições da história, através das nuances dos destinos individuais. Porventura, por isso, muitos tenham encarado com estranheza a sua vontade de dirigir um thriller, que recuperava a premissa de uma minisérie de 1983. Afinal, a odisseia de uma galeria de viúvas, que herdaram as ramificações dos pecados cometidos pelos cônjuges defuntos, aparentava estar nos antípodas do estilo contemplativo e melancólico do britânico. No entanto, desenganem-se os que viam "Viúvas" como uma possível tentativa de reinventar uma filmografia ainda curta, porque McQueen apenas se interessa pelos mecanismos do policial, na medida, em que lhe permitem facilitar a entrada do público, num bairro ond
Destaque da Se mana "Viúvas", de Steve McQueen Realização: Steve McQueen Argumento: Gyllian Flynn , Steve McQueen Elenco: Viola Davis , Michelle Rodriguez , Elizabeth Debicki , Cynthia Erivo , Colin Farrell , Bryan Tyree Henry , Daniel Kaluuya , Jacki Weaver , Carrie Coon , Robert Duvall , Liam Neeson
"Uma Família Ideal" Em 1996, Andrew Fleming dirigiu um simpático conto sobrenatural, intitulado “O Feitiço” . Tratava-se da sua terceira longa-metragem, e a Columbia Pictures ambicionava utilizá-la como começo para uma nova franquia, no entanto, a crítica recebeu-a com um encolher de ombros, e as bilheteiras não foram muito mais simpáticas. A imprensa não demorou a proclamar o fim da carreira do cineasta americano, contudo, esse desaire não poderia ter sido mais benéfico para ele. Como assim? Pois bem, o fracasso de um projeto que parecia ser completamente seguro, libertou-o para perseguir sonhos mais ousados, desembocando num bom número de comédias mordazes e diabolicamente inteligentes, como “Aventuras na Casa Branca” (1999) ou “Hamlet 2” (2008) . Agora, encontramo-lo aos comandos desta fita, com contornos autobiográficos, acerca de um casal quezilento, composto por Erasmus ( Steve Coogan ), um extravagante e celebre chef, e um produtor de conteúdos audiovisu
"Operação Overlord" É bem verdade que, nos mais diversos contextos de produção, a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de muitas e variadas revisitações. “Operação Overlord” corresponderá, por certo, a um dos exemplos mais extremos de tal processo. Porquê? Pois bem, porque o sempre estimável argumentista americano Billy Ray , ousou convocar as memórias tortuosas do Holocausto, de modo a emprega-las como pano de fundo, para um diabólico, sedutor e perturbante conto de monstros. Tudo acontece na véspera do Dia D, quando um grupo de paraquedistas americanos são lançados atrás das linhas inimigas a fim de realizarem uma missão fundamental para o sucesso da invasão: aniquilar uma transmissão de rádio, situada no topo de uma insuspeita igreja francesa. No entanto, à medida que se aproximam daquele lugar profano, começam a perceber que experiências francamente rocambolescas estão a ser levadas a cabo ali… Retomando as matrizes de um certo classicismo americano
Destaque da Semana "Operação Overlord" Realização: Julius Avery Argumento:  Billy Ray ,  Mark L. Smith Elenco: Jovan Adepo , Wyatt Russell , John Magaro
"O Interminável" Justin Benson e Aaron Moorhead continuam a desconcertar-nos. No melhor sentido, entenda-se. De facto, não nos parece possível encerrar os seus pungentes contos humanistas em qualquer padrão temático preexistente, de tal modo vão ziguezagueando por entre as mais variadas referências. Em “O Interminável” mantêm a melancolia romanesca do anterior “Spring” , bem como os seus contornos lovecraftianos , no entanto, é no arrepiante e enigmático universo da sua primeira longa-metragem, “Resolução Macabra” , que tudo acontece. Aaron ( Aaron Moorhead ) e Justin ( Justin Benson ) são dois irmãos, que passaram a infância juntos num culto, no seio de uma floresta, nas imediações da Califórnia, contudo, quando o primeiro ouviu rumores acerca da eminência de um possível ritual de suicídio coletivo, ambos partiram em direção à Los Angeles. Justin ambientou-se ao local, e encontrou alguma paz, Aaron vive corroído por uma nostalgia doentia, que o vai a
Destaque da Semana: "O Interminável" Realização: Justin Benson , Aaron Moorhead Argumento: Justin Benson Elenco: Justin Benson , Aaron Moorhead , Callie Hernandez
"Wildling: A Última Criatura" Os primeiros minutos de “Wildling” sugerem inúmeros caminhos possíveis. Estamos no interior de um quarto de pequenas dimensões, onde se sente “um ar de morte silenciosa” (empregando as palavras imortais de Reynolds Woodcock). Dito de outro modo, a câmara de Fritz Böhm aparenta querer introduzir-nos a uma masmorra decadente. No entanto, é lá que encontramos Anna ( Bel Powley , numa composição de muitas e intrincadas nuances emocionais), uma menina que nunca abandonou esse espaço claustrofóbico. Porquê? Pois bem, porque segundo o seu pai ( Brad Dourif , um veterano, com estatuto de ícone, a emprestar uma certa grandiloquência teatral a cada uma das suas cenas), lá fora existem monstros esfomeados, que comeram todas as crianças do mundo, menos ela. É um começo francamente engenhoso. Não só por estabelecer de imediato uma atmosfera de perturbante desconfiança (aquilo que nos comunicam é tudo o que sabemos, logo somos colocados na me