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A mostrar mensagens de julho, 2020
Destaque da Semana: Outras Estreias:
"Ofélia", de Claire McCarthy Existe um problema na maneira como a literatura clássica retrata as suas personagens femininas. Raramente lhes é providenciado algum controlo sob o seu destino e há mesmo demasiados casos em que as vemos serem reduzidas a meros adereços na jornada do herói. Não é, por isso, incomum encontrar releituras modernas dessas obras, que desafiam o público contemporâneo a conhecer outras perspetivas sobre contos que conhecemos previamente. Em 2009, Seth Grahame-Smith fê-lo ao adicionar mortos-vivos esfomeados ao Orgulho e Preconceito de Jane Austin. A sua visão imaginava as mulheres como guerreiras e não espetadoras passivas, contudo, não só apresentava um tom satírico que não queria ser levado a sério, como mantinha intactos quase todos os aspetos do texto de origem. Continuávamos a acompanhar o romance de Elizabeth Bennett e Mr. Darcy, ainda que houvessem mais membros mutilados que antigamente. No entanto, isso não acontece em Ofélia , a fantástica rein
"Becky", de  Jonathan Milott, Cary Murnion O cinema de terror nunca ocultou uma certa predileção por personagens jovens. Particularmente, adolescentes. Porquê? Pois bem, porque as muitas mudanças e angústias derivadas do processo de crescimento se evidenciam como boa matéria prima para histórias que procuram mexer com aquilo que nos enerva e assusta. Em Becky , os cineastas Jonathan Milliot e Cary Murnion divertem-se a subverter essa ideia. Ou seja, neste filme são os vilões quem necessita de temer a personagem adolescente, cujas supostas vulnerabilidades apenas alimentam a sua sede de sangue. Começamos com uma viagem. Jeff (Joel McHale) leva a filha Becky (Lulu Wilson) a passar um fim-de-semana na propriedade remota, onde costumavam passar tempo de qualidade com a mãe recentemente falecida e os dois cães. No entanto, o propósito dessas férias não é nostálgico. Afinal, o pai planeia aproveitar a ocasião para revelar à filha que se vai casar com novamente. Becky renega a união
Destaque da Semana: Outras Estreias:
"À Luz da Noite", de David Wnendt Por vezes, há cineastas que nunca conseguem escapar ao seu passado. Isto é, passam carreiras inteiras a tentar imitar o filme que os colocou no mapa. Esse não é o caso do alemão David Wnendt. O seu primeiro sucesso internacional foi o grotesco Wetlands , onde se propunha a acompanhar a vida íntima de uma jovem que recusava quaisquer cuidados de higiene. Depois, espantou os seus conterrâneos com uma comédia burlesca que imaginava o que aconteceria se Adolf Hitler acordasse no século XXI. Resumindo de forma necessariamente genérica, Wnendt tem um certo gosto pela provocação. Por isso, é tão surpreendente encontra-lo aos comandos de um filme tão contido como À Luz da Noite . Um olhar gentilmente poético sobre a vida de uma aspirante a pintora (Jenny Slate) que abandona a sua vida caótica em Nova Iorque, para trabalhar como assistente de um artista a viver num regime de reclusão autoimposto na Noruega rural. Com uma premissa assim, seria fácil ca
"Arkansas: Rei do Crime", de Clark Duke Clark Duke possui uma daquelas caras que quase todos os espetadores reconhecerão com facilidade, mesmo que não tenham o seu nome na ponta da língua. No entanto, isso pode e deve mudar com esta sua primeira incursão pela realização de longas-metragens. Chama-se Arkansas , nome da cidade natal do ator tornado e cineasta, que serve de pano de fundo aos acontecimentos sanguinolentos que acompanhamos durante pouco mais de 90 minutos e, em Portugal, recebeu o subtítulo  Rei do Crime , que não sendo despropositado, rouba um pouco da magia desta comédia de mafiosos. Porquê? Pois bem, porque ao encenar a saga de dois criminosos inexperientes que acabam por se perder num submundo impiedoso, Duke consegue criar um thriller envolvente, com um genuíno impacto humano e um sentido de humor subtil, que pinta um retrato acutilante da natureza cíclica do universo do narcotráfico, expondo a maneira como até as mais brutais demonstrações de violência se to
Destaque da Semana: Outras Estreias:
"A Cor da Ambição" (Giuseppe Capotondi, 2019) Os tempos áureos do noir encontram-se no passado, portanto, entende-se que quando um realizador contemporâneo tenta produzir um filme nessa tradição, o faça num registo de homenagem. Nada contra. Afinal, à custa dessa exaltação dos valores de modelos de produção “extintos” já se fez excelente cinema. No entanto, de vez em quando, é bom que alguém demonstre interesse e capacidade para subverter códigos previamente estabelecidos e, no processo, providenciar-nos experiências que se distingam pela maneira como desafiam as nossas certezas. É o caso de A Cor da Ambição , do italiano Giuseppe Capotondi. A enigmática história de um crítico de arte caído em desgraça (Claes Bang) que pensa ter encontrado uma maneira de fugir à sua condição quando um colecionador ganancioso (Mick Jagger) lhe faz uma proposta irrecusável. Pelo meio, há uma possível femme fatale (Elizabeth Debicki) e um artista que vive num regime de inclusão autoimposto (Don
Burden: A Redenção (Andrew Heckler, 2018) Se Mike Burden não existisse e o argumentista e realizador Andrew Heckler o tivesse inventado, ninguém acreditaria. No entanto, Mike Burden foi mesmo um membro fervoroso do Ku Klux Klan (KKK) que abandonou a organização devido ao amor de uma boa mulher, eventualmente desenvolvendo uma aliança com um padre afro-americano, que outrora quase assassinou. Parece exatamente o tipo de história de superação que só acontece mesmo no cinema, mas já dizia o povo que a realidade consegue sempre ser mais estranha que a ficção. Heckler, um ator que desde o começo do século tentava convencer possíveis financiadores a apoiarem esta sua incursão pela realização, presenteia-nos com um conto acutilante acerca dos horrores do racismo sistémico. Uma odisseia de redenção, que evita respostas fáceis e sentimentalismos sensacionalistas. No papel de Burden, Garrett Hedlund é simplesmente assombroso, evidenciando-se como um intérprete capaz de expor as nuances mais deli
"A Verdade", de Hirokazu Koreeda Depois de Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões lhe conferir maior visibilidade no circuito internacional, um dos realizadores mais importantes do cinema japonês atual arrisca um primeiro passo criativo noutro país. França, onde conquistou a Palma de Ouro em Cannes, há dois anos, torna-se agora o cenário de um filme que, apesar da mudança de contexto geográfico e cultural, retoma o seu interesse pelas convulsões das relações familiares. Em termos simples, digamos que A Verdade se propõe a acompanhar o muito adiado reencontro entre Fabienne (Catherine Deneuve) e Lumir (Juliette Binoche), mãe e filha, respetivamente, que se reúnem em Paris devido ao lançamento da autobiografia da progenitora. No entanto, a reunião de família corre riscos de se transformar num violento ajuste de contas afetivo… Em última instância, podemos argumentar que o restante filme se vai deixando moldar por um inusitado gosto pelas palavras e suas ambivalências. A
"Freaks", de Zach Lipovsky e Adam B. Stein Depois de escapar ao controlo possessivo e paranóico do pai, uma rapariga descobre um estranho e ameaçador novo mundo para lá da sua porta de casa… Importa não explicitar muitos detalhes sobre o filme, evitando revelar demasiado sobre os seus desenvolvimentos. Afinal de contas, esta é mesmo uma história em que o suspense se assume enquanto um elemento fundamental. Digamos, então, para simplificar, que estamos perante uma narrativa que tende para uma dimensão fantasiosa, sem nunca excluir uma componente social pertinente e inquietante. Acima de tudo, o duo composto por Zach Lipovsky e Adam B. Stein consegue providenciar-nos uma experiência invulgar, que começa por assumir os contornos de um thriller minimalista e, lentamente, vai entrando no campo da fábula. De facto, não é todos os dias que encontramos uma proposta tão peculiar como Freaks . Isto é, uma alegoria aberta a várias leituras possíveis, que se distingue por um argumento qu
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