Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2022

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "OS FABELMANS"

Seja porque a pandemia desencadeou (ou acelarou) violentas mudanças na indústria cinematográfica ou porque o revivalismo se encontra na ordem do dia, os últimos anos viram muitos cineastas a revisitar o seu passado no grande (ou pequeno) ecrã.  Kenneth Branagh  ( "Belfast" ),  Paolo Sorrentino  ( "A Mão de Deus" ) ou  James Gray  ( "Armageddon Time" ) fizeram-no recentemente e, agora,  Steven Spielberg  também seguiu esse caminho. Em  "Os Fabelmans" , ele convoca as suas memórias de infância e adolescência para "compor", simultaneamente, uma comovente celebração do amor primitivo pelo cinema, visto e habitado como um intemporal país das maravilhas, e um contundente melodrama familiar, que ousa ressuscitar um dos momentos mais dolorosos da vida do cineasta, o divórcio dos pais (os seus fãs mais ferrenhos devem recordar-se que esse rompimento conjugal já tinha estado na origem de  "E.T." ). O ano é 1952, quando, numa noite inver

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "OS ANOS SUPER 8"

Na primeira semana de 2022, a NOS Audiovisuais estreou "O Acontecimento" , baseado no romance homónimo de Annie Ernaux . No entanto, os constrangimentos da pandemia condenaram-no a uma passagem demasiado discreta pelas salas escuras. Entretanto, Ernaux recebeu o Nobel da Literatura, providenciando um outro nível de visibilidade que, não tendo chegado a tempo de auxiliar "O Acontecimento" , pode muito bem ser o principal atrativo de "Os Anos Super 8" , um documentário elucidativo, envolvente e, tremendamente, económico (são apenas 61 minutos de duração, portanto, se se anda a queixar das 3 horas e 12 minutos de "Avatar: O Caminho da Água" nas redes sociais, tem bom remédio), que a romancista assinou em conjunto com David Ernaux-Briot , um dos filhos. Nele, acompanhamos um conjunto de gravações caseiras, filmadas com uma câmara Super 8, entre 1972 e 1981, no seio da família Ernaux, devidamente acompanhados pela voz da autora francesa, que evidenc

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS: (EXCLUSIVO MEDEIA FILMES CINEMAS) (EXCLUSIVO MEDEIA FILMES CINEMAS)

CRÍTICA - "LOBO E CÃO"

Numa das imagens mais reconhecíveis de  "Lobo e Cão"  (contemple-a acima), um grupo de  outsiders , incluindo os protagonistas, Ana ( Ana Cabral ) e Luis ( Ruben Pimenta ), posicionam-se um a um, num palco, olhando diretamente para a câmara e, consequentemente, para nós. Nunca nos dirigem a palavra (não podemos, portanto, falar numa "quebra da quarta parede"), mas, temos consciência de que se os seus olhares "procuram" o nosso. Esse longo plano, "embalado" pela área "Cold Song", na voz de Klaus Nomi, um ícone esquecido da comunidade LGBTQI+,  encapsula quase tudo aquilo que é a primeira longa-metragem de ficção de  Cláudia Varejão , autora de  "Ama-San"  e  "Amor Fati" . Um mergulho profundo na comunidade  queer  de São Miguel, nos Açores, filtrado pelo olhar, inerentemente, melancólico, incerto e receoso de dois jovens que, entre a infância e a idade adulta, naquele instante fugaz que apelidamos de "adolescênci

CRÍTICA - "OS IRMÃOS DE LEILA"

Quando  "A Lei de Teerão"  se estreou no mercado português, nos últimos dias de junho, a crítica e os poucos cinéfilos que o nosso país ainda possui não demoraram a proclamá-lo como um dos acontecimentos centrais da temporada. Não era caso para menos. Afinal, não é todos os dias que descobrimos um autor em pleno domínio de todas as ferramentas do seu métier. O seu nome é  Saeed Roustayi , tem 33 anos, e nesse filme apoderava-se dos códigos do policial taquicardíaco, como idealizado por  William Friedkin  em  "Os Incorruptíveis Contra a Droga" , para construir um épico sociopolítico, a paredes meias com o conto moral, com uma intensidade dramática que trazia à mente William Shakespeare. Uns meses depois, recebemos a sua terceira longa-metragem (a primeira,  "Life and a Day" , permanece inédita no mercado português),  "Os Irmãos de Leila" , um melodrama familiar, a meio-caminho entre  Francis Ford Coppola  ( "O Padrinho"  vem à mente) e F

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "O MENU"

A comédia é, inerentemente, anárquica. Enquanto ferramenta de desconstrução social e política, filosófica e moral, (das nossas certezas civilizacionais, do absurdo da nossa condição, etc.) o humor não suporta nenhum tipo de hierarquia de poder, uma vez que, a sua força reside na sua capacidade de encontrar algo de, fundamentalmente, ridículo em todos nós. O cómico é, portanto, uma figura destrutiva, incapaz de reconhecer estatutos sociais (ou desinteressado em fazê-lo), egos e outros impedimentos. O realizador  Mark Mylod  e os argumentistas  Seth Reiss  e  Will Tracy , sabem disso e comprovam-no em  "O Menu" , compondo uma sátira sanguinolenta e impiedosa, a meio-caminho entre  "Succession"  e  "Saw" ,  "O Anjo Exterminador"  e  "Charlie e a Fábrica de Chocolate" ... Nele, rumamos até uma ilha junto à costa noroeste do Pacífico, onde o chef Julian Slowik ( Ralph Fiennes ) e a sua equipa residem anualmente, presenteando os visitantes co

CRÍTICA - "OSSOS E TUDO"

Luca Guadagnino  continua a traçar um caminho deveras singular, com uma filmografia tremendamente heterogénea, onde se cruzam influências, referências e géneros, sempre com um inatacável sentido de coerência ética, estética e simbólica. Em  "Ossos e Tudo" , encontramo-lo, novamente, a encenar uma fábula sobre indivíduos marginalizados, neste caso especifico, os diversos membros de uma comunidade de canibais, cujas vivências vão sendo filtradas pelo olhar de uma jovem que, aos 16 anos, começa a experienciar esses anseios "carnais", por assim dizer. Inevitavelmente, muitos se têm sentido tentados a comparar  "Ossos e Tudo"  a um dos romances sanguinolentos seminais do século XXI, o  "Deixa-me Entrar" , de  Thomas Alfredson , não só porque ambos providenciam espessura dramática a personagens, tendencialmente, reduzidas a estereótipos vilanescos, desprovidos de quaisquer resquícios de humanidade. No entanto, há, pelo menos, um pormenor que diferencia

DESTAQUE DA SEMANA

OUTRAS ESTREIAS:

CRÍTICA - "CRIMES DO FUTURO"

Durante oito (longos) anos, não tivemos notícias de  David Cronenberg . Encontrámo-lo enquanto ator no  "Falling" , do amigo e companheiro de trabalho  Viggo Mortensen , por exemplo, no entanto, tudo indicava (incluindo alguns comentários do próprio) que  "Mapas Para as Estrelas"  ficaria como o seu último filme como realizador. Felizmente, esse cenário não se confirmou. Em 2022,  Cronenberg  reafirma o seu génio com  "Crimes do Futuro" , um "thriller", se é que lhe podemos aplicar um género pré-existente, tal é a sua insistência em escapar a todas as "gavetas" em que costumamos enfiar os filmes que vemos, que o vê regressar aos tempos de  "Videodrome"  ou  "A Mosca" , quando as mutações corporais (não raras vezes sanguinolentas e aterrorizantes) lhe serviam de veículo para falar sobre a condição humana. Em  "Crimes do Futuro" , encontramo-nos num futuro indeterminado, onde a humanidade deixou de sentir dor