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A mostrar mensagens de setembro, 2017
Crítica: "Vitória e Abdul", de Stephen Frears Conto humanista, alternadamente melancólico e hilariante, que examina com olhar crítico o racismo institucionalizado numa Grã-Bretanha colonial, que numa altura de refugiados e controvérsias raciais assume uma relevância inesperada. “Vitória e Abdul”, não inventa, nem reinventa rigorosamente nada, mas representa um pequeno milagre. Nada mais, nada menos, que uma pequena e muito simpática produção britânica, que utiliza um requintado sentido de humor para desmontar as convenções deste estilo de fitas, com as quais tantas vezes nos deparamos. Para tal, Frears encena a história verídica de uma amizade incomum entre a Rainha Vitória (Judi Dench) e um servente indiano (Ali Fazal), num registo menos classicista e, mais próximo de uma contagiante comédia de costumes, ainda que com uma veia política extraordinariamente pronunciada, a partir da qual pudemos e devemos traçar paralelos com algum realismo social muito british , que
Poster: "You Were Never Really Here", de Lynne Ramsay
Crítica: "Good Time", de Josh Safdie, Benny Safdie Imaginemos Encontro de Irmãos como um noir, situado no submundo do crime da Nova-Iorque contemporânea. Agora, pensemos no realismo brutal do Martin Scorsese de Taxi Driver e, no requinte esteticista do Korine de Spring Breakers . Momento ideal, portanto, para mencionar Good Time , comovente e estonteante reencontro com o cinema de Josh e Benny Safdie, que parecem construir o estilo de thriller criminal, que aparentava andar desaparecido. Para tal, encenando a odisseia trágica de um criminoso de segunda linha, dono de um ego absurdamente generoso e, de uma predisposição recorrente para usar e abusar dos que o rodeiam, que necessita de usar os seus conhecimentos para arranjar 10 milhões e, assim pagar a fiança do irmão, preso por sua culpa. Ora e, quando colocada desta maneira mais ou menos esquemática, a narrativa desta nova longa do icónico duo até poderá parecer ligeiramente banal, mas também aí residem alguns d
Destaque da Semana: "Good Time", de Josh Safdie, Benny Safdie
Crítica: "Kingsman: O Círculo Dourado" ("Kingsman: The Golden Circle"), de Matthew Vaughn Os donos da franchise 007 querem um Bond sério e torturado, mais próximo daquele tom soturno e melancólico, que atualmente pauta a maioria dos blockbusters. Porém, Matthew Vaughn claramente tem saudades dos tempos absurdos e ligeiros de Roger Moore. Nesses anos, nada fazia muito sentido, os diálogos eram foleiríssimos e, as narrativas partilhavam mais características com uma certa ficção-cientifica de terceira linha, que com os marcos do cinema (e literatura) de espionagem. Como tal, repescou às bandas-desenhadas do seu conterrâneo Mark Millar e, em seu torno, concebeu um espetáculo divertido como poucos, aliando elementos de humor grotesco com uma sofisticação estética e narrativa inatacável (afinal, Vaughn é mesmo um dos melhores cineastas mainstream contemporâneos). Dois anos depois, há sequela e, como costuma acontecer, o orçamento aumentou muito e, com ele o el
Crítica: "mãe!" ("mother!"), de Darren Aronofsky Um homem e uma mulher, numa mansão quase etérea. Ele, quer recuperar uma inspiração que pode nunca mais voltar e, acabar o poema da sua vida. Ela, quer utilizar o seu tempo, para transformar a casa num paraíso. Porém, esse clima aparentemente pacifico é alterado pela cheda de alguns estranhos, que rapidamente passam da simpatia e cordialidade, para as mais diversas formas de agressão e manipulação. Ora e, quando colocada desta maneira mais ou menos simplista, a narrativa concebida por Darren Aronofsky poderá assemelhar-se à de um filme de terror, no entanto, embora essa linguagem seja mesmo convocada por uma mise en scène , que privilegia um sentimento de desconforto latente (espetadores mais claustrofóbicos poderão não apreciar alguns aspetos), mas “mãe!” não encaixa em gavetas previamente estabelecidas, nem cede a convenções banais. Assim e, porque quanto menos se souber melhor, afirmemos apenas que esta
Destaque da Semana (21/09/2017-27/09/2017): "mãe!" ("mother!"), de Darren Aronofsky Também Em Estreia:
Poster: "Isle of Dogs", de Wes Anderson
Poster: "Tomb Raider", de Roar Uthaug
Crítica: "Arranha-Céus" ("High-Rise"), de Ben Wheatley Wheatley já filmou os traumas da guerra, o nascimento de um amor comovente entre dois assassinos em série e um hilariante tiroteio num armazém. Agora, o mais ousado cineasta britânico contemporâneo, virou-se para a literatura de J.G. Ballard, para retratar a falência ou, melhor o colapso completo e absoluto de uma sociedade capitalista. E, quem conhecer o cinema muito particular do autor de “Kill List” e “Free Fire”, certamente saberá que ele nunca demonstrou grande interesse em construir objetos cinematográficos “confortáveis” ou, politicamente corretos. Não, Wheatley apenas ambiciona alimentar um interesse, que nos dias que correm parece mesmo ser só seu, ver o mundo a arder. Ideal, nunca antes tão aparente como em “Arranha-Céus”, que começa por nos apresentar ao edifício, onde tudo se passa, estabelecendo uma atmosfera de permanente estranheza, reminiscente de alguns títulos de Terry Gilliam (como
Crítica: "Detroit", de Kathryn Bigelow Kathryn Bigelow e Mark Boal mudaram-se mutuamente. Ela começou unicamente como uma encenadora de requintados espetáculos de ação (lembremos o clássico “Point Break: Ruptura Explosiva”). Ele estabeleceu-se como um jornalista de investigação. No entanto, quando se conheceram, a situação alterou-se permanentemente. Boal transformou-se num argumentista e, Bigelow passou a emprestar o seu olhar quase documental aos seus belos escritos. Passados 9 nove anos, saíram dessa parceria três longas-metragens, que parecem mesmo formar uma trilogia inesperada, confrontando a América com a sua história e mais importante que isso, com os momentos menos positivos da mesma. Em “Detroit”, fala-se nos motins que abalaram a cidade titular em 1967, que atingiram um dos seus momentos mais sangrentos no incidente do Motel Algiers, em que a ação de uma polícia francamente racista, levou à morte de três jovens afro-americanos, na sequência de uma viol
Crítica: "The Bad Batch: Terra Sem Lei", de Ana Lily Amirpour Amirpour é uma cineasta incomum e, consequentemente, fascinante. Em “The Bad Batch: Terra Sem Lei” (estreia-se hoje), a iraniana, que anteriormente tinha cruzado com notável brilhantismo Jim Jarmusch e Quentin Tarantino, numa impressionante estreia nas longas-metragens, chamada “Uma Rapariga Regressa de Noite Sozinha a Casa”, vai agora colher inspiração ao surrealismo poético de Alejandro Jodorowsky e, assina este belíssimo conto apocalíptico, onde num futuro nunca especificado, o governo dos Estados Unidos escolhe abandonar quem considera indigno, num deserto árido no Texas, fisicamente separado do resto do país por um muro. Ora, com um ponto de partida assim, não será preciso adiantar mais detalhes acerca desta distopia, para percebermos que Amirpour escolheu colocar de lado as subtilezas nesta crítica visceral à América de Trump, aos seus múltiplos fantasmas e preconceitos alarmantes, conduzindo o p
Poster: "Visages, Villages" ("Faces, Places"), de JR, Agnès Varda
Crítica: "It", de Andy Muschietti Há um elemento que qualquer filme necessita, independentemente do seu género ou tom. Falamos naturalmente do “elemento humano”, essa componente quase mágica, que todos os melhores filmes possuem, de nos conectar emocionalmente às suas personagens. Dessa forma, conduzindo-nos a desenvolver outros sentimentos com elas (podemos sentir o seu prazer e sofrimento, chorar, quando estão melancólicas e, dar sonoras gargalhadas quando estão felizes). Andy Muschietti sabe disso e aplicou-o bem na sua mais recente realização, “It”, baseado no emblemático romance homónimo de Stephen King. O resultado é mesmo um dos acontecimentos fundamentais do ano. É que, o cineasta argentino olhou para esta história de um grupo de amigos, que precisam de enfrentar uma entidade demoníaca, cujo passado sangrento remonta a vários séculos atrás e, onde muitos encontrariam apenas um bom pretexto para encenar sustos frequentes, viu um conto comovente sobre adoles
Destaque da Semana (14/09/2017-20/09/2017): "It", de Andy Muschietti Também em Estreia:
Poster: "All The Money In The World", de Ridley Scott
Poster: "The Shape of Water", de Guillermo Del Toro
MOTELX: DIA 6 - "Tragedy Girls", de Tyler MacIntyre "Tragedy Girls", de Tyler MacIntyre Outrora um subgénero dominante nas bilheteiras e nos alinhamentos dos grandes estúdios americanos, tornou-se mais ou menos impossível não constatar o aparente falecimento do slasher movie . Afinal, onde andam os sucedâneos de Halloween , Pesadelo em Elm Street ou Sexta-Feira 13 ? Bom, não nos enganemos, até mesmo algumas das inúmeras sequelas dessas mesmas franquias, já andavam num limbo estranho, algures entre o completamente desastroso e o minimamente competente e, a maioria dos seus clones, contentava-se com uma atitude copista e desinspirada, no entanto, quando conseguíamos algo genuinamente interessante, nasciam novos clássicos. E, títulos como O Último Destino ou Gritos (ambos por sinal, alvos de belíssimas sequelas) contar-se-ão entre os mais deliciosamente astutos exemplares dessa mesma tendência. Posto isto, talvez tenha chegado o momento de juntar um nov
Crítica: "Una: Negra Sedução", de Benedict Andrews Aos 28 anos, Una reencontra Ray, o homem com quem manteve uma relação muito íntima quando era uma adolescente de apenas 13 anos. Encontro esse, que além de o surpreender, o deixa profundamente abalado, porque passados 15 anos desde o sucedido (os primeiros quatro a cumprir pena por abuso de menores), Ray esforçou-se ao máximo para construir uma nova vida, deixando para trás os pecados desse malogrado passado. Por sua vez, Una nunca conseguiu recuperar e, do confronto entre os dois, emergem desejos inconfessáveis e arrependimentos indizíveis. Assim, começa a primeira longa-metragem deste encenador teatral tornado cineasta, que lentamente nos vai conduzindo até um complexo labirinto de emoções e perturbações, onde emergem dois excelentíssimos atores, Rooney Mara e Ben Mendelsohn, em performances de uma delicadeza estonteante (num mundo justo, seriam encarados como sérios candidatos aos principais galardões, na tempo
Crítica: "Sorte à Logan" ("Logan Lucky"), de Steven Soderbergh Há quatro anos atrás, Soderbergh anunciou uma reforma precoce. Segundo ele, os grandes estúdios e os seus mecanismos castradores, haviam-se transformado numa “assombração” constante, que não conseguira continuar a sentir. No entanto, felizmente tudo não passava de uma estratégia temporária, enquanto trabalhava na televisão ( Por Detrás do Candelabro e The Knick , nasceram desse processo). E, é com esta deliciosa comédia de costumes, que o vemos regressar. Essencialmente, uma interessantíssima variação das matrizes clássicas da franquia Ocean's , trocando essas personagens endinheiradas e requintadas, por pessoas do interior americano, com problemas financeiros seríssimos e um sentido de comunidade muito aparente. Mais especificamente, conhecemos um trio de irmãos (Channing Tatum, Adam Driver e Riley Keough), descendentes de uma família que parece permanentemente atormentada por uma má so
Crítica (MOTELX 2017): "Lowlife", de Ryan Prows Primeiríssima longa-metragem do americano Ryan Prows, "Lowlife" é uma das descobertas do festival. Um thriller negríssimo, com pronunciados contornos de uma comédia satírica, densamente enraizada num olhar desencantado e melancólico sobre a sociedade moderna, que se divide em pequenas vinhetas mais ou menos rocambolescas, onde conhecemos um grupo de personagens caricatas, pertencentes a círculos, digamos assim, que só vemos no cinema americano muito esporadicamente. Afinal, todos os acontecimentos giram à volta de uma comunidade trabalhadora, maioritariamente constituída por imigrantes mexicanos e afro-americanos, descontentes com as suas vidas e, afetados por uma série de problemas distintos, que vão desde toxicodependência ao racismo, que necessitam de enfrentar quase diariamente, passando por uma desagregação progressiva dos laços familiares (aliás, uma temática absolutamente central no filme de Prows).