Quando Riz Ahmed e Allison Williams anunciaram os nomeados aos Óscares referentes à produção de 2022, "Ice Merchants" entrou automaticamente para a história como a primeira produção portuguesa a conseguir uma nomeação para os prémios da Academia de Artes e Ciências de Hollywood.
No entanto, o assombroso filme de João Gonzalez merece mais, muito mais, do que ser "arrumado" na gaveta das curiosidades estatísticas. Sim, é sempre bom saber que os méritos do nosso cinema são reconhecidos no estrangeiro, mas, também é preciso ir às salas e experienciar cada obra na primeira pessoa, entendendo e celebrando as suas singularidades.
A história de um pai e filho, mercadores de gelo, que vivem numa casa no pico ingreme de uma montanha, é, em tudo e por tudo, tremendamente simples, contudo, a execução acarreta qualquer coisa de transcendente, imbuindo a odisseia desse duo de uma carga fantasmagórica que comove (e muito), pela maneira como expõe a intimidade daquelas personagens com uma veia poética e um pendor para imagens que apetece descrever como alucinantes.
Quer "Ice Merchants" saía triunfante da cerimónia dos Óscares ou não, o que importa mesmo é ver os espetadores a descobri-lo, reconhecendo-o cá dentro, como aconteceu lá fora, quanto mais não seja, porque com ou sem prémios, nos encontramos perante um dos melhores títulos em exibição.
Afinal, "Ice Merchants" não tem diálogos, mas prova que Gonzalez é fluente na linguagem universal do cinema.
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