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Crítica: "White Bird In A Blizzard" ("Pássaro Branco"), de Gregg Araki



Figura icónica do cinema independente americano, Gregg Araki (realizador de fitas emblemáticas como "The Living End - Viver Até Ao Fim", "The Doom Generation", ou "Mysterious Skin - Pele Misteriosa") regressa às salas de cinema quatro anos após o bizarro (e genial) "Kaboom - Alucinação" (um favorito pessoal daquele que vos escreve) com este belíssimo "Pássaro Branco" (título original: "White Bird In A Blizzard") um filme misterioso, vibrante e nostálgico, algures entre o drama juvenil (típico de Araki) e o thriller suburbano (claramente reminiscente de David Lynch). A história gira em torno de Kat Connors (uma Shailene Woodley absolutamente prodigiosa), uma adolescente americana de 17 anos, cuja vida é drasticamente afetada pelo desaparecimento da sua mãe, Eve (Eva Green, fantástica como sempre). A partir daí, Araki (que também assina o argumento, tendo como base a obra literária homónima de Laura Kasischke) desenvolve uma narrativa fascinante sobre a perda da inocência e a passagem para a idade adulta.


10/10
Miguel Anjos

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